top of page
StudioToyMaker logo-Photoroom.png

O DESERTO DE CONCRETO

Capa de livro ambientada em uma avenida larga e chuvosa de São Paulo à noite. O asfalto molhado reflete luzes amarelas dos postes e faróis de carros em movimento. Ao centro, de costas para o observador, estão um homem e uma mulher — Dante e Lívia — cada um segurando um smartphone iluminado. Eles encaram a imensidão de prédios altos e escuros que formam um corredor urbano profundo. No topo de um dos edifícios ao fundo brilha um símbolo vermelho em forma de labirinto. No alto da capa aparece o título “O Deserto de Concreto”. Abaixo dele está escrito “A Jornada de Dante e Lívia pelo Labirinto”, e na parte inferior consta a faixa “Prólogo — Série Desvendando o Labirinto do BDSM”. A atmosfera é sombria, urbana e misteriosa.

São Paulo acorda antes de todo mundo.

E engole quem não acompanha.


Entre buzinas, filas intermináveis e prédios que parecem apertar o céu para baixo, milhões caminham lado a lado — e mesmo assim, ninguém parece realmente perto de ninguém.

A cidade respira correndo. E, no ritmo dela, respiram Dante e Livia.


Ambos jovens.

Ambos inteligentes.

Ambos vivendo uma vida que não escolheram totalmente.

Ambos tentando sobreviver no deserto urbano que transforma desejo em cansaço, sonho em boleto e identidade em algoritmo.

Ambos sentindo falta de algo.

Algo que ainda não sabem nomear.



Dante mora em Perdizes, numa casa antiga que ecoa mais memórias dos pais do que passos dele. Trinta e cinco anos. Analista de TI em Pinheiros. Profissional competente, socialmente mediano, emocionalmente perdido.


Acorda cedo, mas sempre com a sensação de que está atrasado — não para o trabalho, mas para a própria vida.

A pressão não vem apenas da cidade. Vem da família.


A mãe o trata como um menino que precisa provar constante maturidade. O pai, como alguém que devia ter “voado” há anos. Os amigos, como se ele fosse sempre

“o responsável”, o que aguenta mais, o que não pode fraquejar.


Dante tem casa, estabilidade, comida pronta, um quarto só dele desde sempre…Mas tudo isso custa caro.

Custa a sensação de que nunca tomou decisões para si mesmo.


No amor, colecionou fracassos com mulheres que o diminuíram, exigiram demais, manipularam, cobraram força emocional que ele nunca teve tempo de aprender.

E cada término deixou ecos:


“Você não sabe ser homem.”

“Você é mole demais.”

“Eu queria alguém que me dominasse.”


Essas frases corriam com ele no metrô lotado, no trânsito parado, na caminhada entre a Cardeal Arcoverde e o escritório. E, com o tempo, viraram uma pergunta constante:


O que significa ser homem hoje?


A pornografia respondeu primeiro — do jeito errado. A frustração respondeu depois — do jeito mais doloroso. E a cidade completou: “Se vire.”


Foi assim que Dante começou a buscar algo diferente. Algo que o tirasse do automático. Algo que explicasse seus desejos mais difíceis. Algo que o colocasse no controle pela primeira vez.


Não sabia o nome disso. Só sabia que São Paulo não o deixava ouvir sua própria voz. Então ele começou a procurar nas vozes dos outros.


No escritório, ouve piadas masculinas sobre “ser alfa”, “ser dominador na cama”, “mulher gosta de homem que manda”. Ele ri por obrigação. Mas não se reconhece naquelas frases.


À noite, o algoritmo entrega vídeos de “masculinidade moderna”, tutoriais de “como ser um líder”, coaches gritando que homem de verdade controla tudo.


Isso o incomoda. E, ao mesmo tempo, o atrai.


Um dia, no YouTube, tropeça em um vídeo chamado:


“O poder da entrega feminina: a psicologia por trás da submissão”.


Ele clica. Não entende quase nada. Mas algo acende.


Nas semanas seguintes o algoritmo faz o trabalho completo:


  • podcasts sobre dominação,

  • entrevistas com “Dominadores experientes”,

  • fóruns sobre relacionamento de poder,

  • relatos de iniciantes perdidos buscando respostas.


Nenhuma das informações é realmente técnica.

Mas todas apertam um botão interno que Dante nem sabia que tinha.


Até que, numa noite silenciosa na casa dos pais, sozinho no quarto:


Ele digita no Google:


“como entrar no BDSM sem parecer idiota”.


O primeiro resultado é um artigo duvidoso, com anúncios suspeitos e um banner discreto piscando no rodapé:

“Conheça pessoas de mente aberta. Sem julgamentos. Entrada livre. Saída incerta.”

Ele hesita. Mas clica.


A página abre um formulário simples.

Nome.

Idade.

Preferências.

Sem avisos.

Sem instruções.

Sem segurança.


Dante respira fundo.


E baixa o aplicativo.



Livia não nasceu endurecida. Foi moldada assim.


Vinda de Taubaté, chegou a São Paulo com uma mala, um diploma de Marketing, um medo constante de errar… e uma mãe evangélica que ainda tentava controlá-la a 300 km de distância.


A mãe ligava todos os dias, não para perguntar como ela estava, mas para lembrar:


“Cuidado.”

“Não provoque.”

“Todo mundo quer alguma coisa.”

“Esse lugar é obra do inimigo.”


Livia morava na Mooca, dividindo apartamento com duas desconhecidas que quase nunca estavam em casa. Mesmo assim, não havia silêncio. Havia solidão.


No trabalho em Pinheiros, fazia de tudo para agradar — ao chefe, à equipe, aos clientes — como se dependesse disso para existir.


E dependia.


O orçamento era curto, o aluguel alto, a cidade imensa.Junto disso, vinham:


  • A sensação de ser pequena demais para o tamanho da capital,

  • O medo constante de desagradar,

  • A culpa por desejar o que não controlava,

  • As cicatrizes invisíveis de um trauma infantil que ela nunca teve coragem de contar.


Livia buscava normalidade…E, ao mesmo tempo, queria algo que a fizesse sentir viva de verdade.


Já tinha experimentado velas, arranhões, submissão leve com um ex. Nada profundo, nada técnico — mas suficiente para perceber que existia prazer na entrega.


Prazer… e culpa.


Quando esse ex a chamou de “desviada” e disse que ela precisava “se limpar espiritualmente”, algo nela quebrou.


E, de repente, ela se perguntou:


E se não for pecado? E se for só quem eu sou?


Livia chega exausta em casa na maioria dos dias. A Mooca parece sempre barulhenta demais ou solitária demais. As colegas de apartamento conversam sobre nada importante, mas ela só quer deitar.


Vinda do interior, cresceu em ambiente rígido, onde desejo era pecado e autonomia era rebeldia. A mãe revirava os olhos quando ela se arrumava demais. O pai nunca intervinha.


Mas na faculdade, com as primeiras amigas de verdade, ela ouviu histórias diferentes:


  • relações abertas,

  • pessoas que gostavam de apanhar durante o sexo,

  • mulheres que preferiam mulheres,

  • dinâmicas de poder consensual.


Ela nunca participou. Mas sempre ouviu com um misto de curiosidade e medo.


Com 25 anos, agora formada e vivendo em São Paulo, a pressão do trabalho e o silêncio da vida adulta começam a pesar.


E numa noite qualquer, exausta, ela recebe um vídeo no grupo das amigas:


“Quando você descobre que existe gente que gosta de entregar o controle porque isso traz paz.”


Livia assiste, sem piscar.

E sente algo estranho, íntimo, familiar.


Na semana seguinte, as amigas riem, dizendo:


Você devia entrar nesses apps alternativos, Liv. Só pra ver como é.

Imagina você com um cara sério, que te trate direito…

Você é muito certinha, mas ia ficar linda ajoel…

Chega, gente!, ela corta — mas está rindo.


À noite, sozinha, pensa na frase. Pela primeira vez admite que deseja algo que nunca ousou dizer em voz alta.


No Instagram, vê um post sobre “relacionamentos de entrega e confiança”.

Nos Stories, alguém compartilha um link anônimo para um app “de perfis discretos”, com a frase:

“Conheça pessoas de mente aberta. Sem julgamentos. Entrada livre. Saída incerta.”

Clicou e baixou o aplicativo, sem expectativas

Sem proteção emocional.

Sem filtro.

Sem noção do risco.


Apenas com a coragem dos desesperados.



Em uma noite pesada de São Paulo — ônibus atrasado, chuvas de verão, cheiro de asfalto quente — ambos chegam em casa exaustos demais para pensar, mas inquietos demais para dormir.


Dante, deitado no quarto da infância, olha o teto e pensa:


“Eu quero sentir que tenho propósito.”


Livia, no quarto alugado na Mooca, sussurra para si mesma:


“Eu quero sentir que pertenço a algum lugar.”


Não existe magia.

Não existe sinal divino.

Existe apenas a soma silenciosa de pequenos incômodos acumulados.


A vida, às vezes, empurra. Quando isso acontece, não olhamos para onde vamos — apenas para onde queremos fugir.


É assim que ambos, sem saber do outro, fazem o mesmo movimento:


Abrem o celular.

Vasculham textos, vídeos, relatos.

E finalmente…


Encontram o aplicativo.


Labirinto


“Entre por vontade própria.

Permaneça. Saia se puder.”


Aquele que promete um espaço seguro, adulto e “curado”.

Aquele que promete encontrar seu par ideal.

Aquele que parece simples, elegante, objetivo.


Promete muita coisa.


Sobre entrega.

Sobre conexão.

Sobre desejo.


E, sem imaginar as consequências, ambos clicam em:


Instalar.


Assim começa a jornada. Não pelo prazer — mas pelo desconhecido.


ANÁLISE TÉCNICA DO PRÓLOGO

(O que o leitor aprende — mesmo sem perceber)


O prólogo cumpre três funções essenciais:


  1. Ambientação emocional — mostra São Paulo não como cenário, mas como força ativa que molda comportamentos.


  2. Construção de personagens — revela o “porquê” deles antes do “com quem”.


  3. Motivação inicial realista — nem Dante nem Livia entram no BDSM por fetiche imediato;

    entram por falta,

    por desequilíbrio interno,

    por curiosidade,

    por dor,

    por condicionamentos sociais.


Agora vamos à análise ponto a ponto — a estrutura que vai encontrar em cada livro da série.


Onde Dante acerta


Ele reconhece um incômodo interno


Mesmo sem saber nomear, ele percebe que algo está errado. Esse é o primeiro passo para qualquer exploração saudável.


Ele busca informação


Ainda que seja conteúdo superficial, Dante tenta entender seu desejo, e isso é um ponto positivo.


Ele questiona a masculinidade tóxica


Mesmo preso à performance, percebe que algo não encaixa. Esta dúvida é valiosa.


Onde Dante erra (e muito)


Baixa autoestima influenciando escolhas


Ele entra no BDSM motivado por frases destrutivas do passado, não por autoconhecimento.


Consome conteúdo duvidoso


Tutoriais de “masculinidade alfa” e coaches tóxicos moldam seu imaginário, criando ideias irreais de dominação.


Busca o BDSM como solução mágica


Ele acredita que ser “Dominante” o tornará finalmente um “homem de verdade”.

Isso é perigoso — para ele e para qualquer futura parceira.


Usa nome real em um app kink


Erro gravíssimo e muito comum.


Entra sem instruções, sem pesquisa, sem base mínima


Movido pelo desespero de não saber “quem é”.


Onde Livia acerta


Ela reconhece seus desejos sem negar sua complexidade


Ela sente culpa, mas sente também curiosidade — isso é humano.


Tem autoconsciência afetiva


Ela percebe padrões de submissão leve e entende que isso a atraía.


Busca autonomia longe da família


O desejo de se encontrar é legítimo.


Onde Livia erra


Entra motivada por carência emocional e exaustão


O cansaço da vida adulta e a solidão são péssimos conselheiros.


Baixa no app por impulso


Influenciada por amigas e pela sensação de “fugir de si mesma”.


Também usa nome real


Erro tão grave quanto o de Dante.


Não cria filtros, limites ou expectativas seguras


Ela entra com curiosidade… mas vulnerável.


Erros comuns dos DOIS


  1. Entram movidos pelo vazio, não pelo desejo estruturado

  2. Não pesquisam BDSM real — só conteúdo superficial

  3. Acreditam que o app é “um portal seguro”

  4. Não têm noção de riscos digitais básicos

  5. Confundem fantasia com prática real

  6. Não possuem linguagem emocional para expressar limites

  7. Entram com perfis completamente vulneráveis


Esses erros são extremamente comuns no meio digital.


Check-List —

Entrada Segura no BDSM Virtual


Identidade


☐ Nunca use seu nome real

☐ Nunca use foto reconhecível

☐ Crie apelido coerente, porém não identificável

☐ Separe vida pessoal da vida kinky


Segurança digital


☐ Não exponha redes sociais reais

☐ Não compartilhe localização

☐ Não compartilhe dados sensíveis

☐ Use email separado do principal


Saúde emocional


☐ Nunca entre em apps por carência

☐ Nunca entre em dias de crise emocional

☐ Pergunte a si mesmo: “Estou buscando alguém ou tentando fugir de algo?”


Base mínima antes de entrar


☐ Pesquisar conceitos básicos: SSC, RACK, Safe words

☐ Entender que dominação não é superioridade

☐ Entender que submissão não é fraqueza

☐ Criar uma lista pessoal de NÃO e TALVEZ


Expectativas realistas


☐ SDS: Sexo, Doçura e Salvação não vêm de um app

☐ BDSM virtual é caótico — prepare-se

☐ 80% das mensagens não prestam

☐ Não existe “guru” de dominação com banner piscando


Como deveria ter sido (versão segura)


Dante deveria ter:


  • Pesquisado fontes confiáveis

  • Buscado grupos sérios, não coaches tóxicos

  • Criado nickname seguro

  • Primeiro entendido seus próprios traumas e inseguranças

  • Reconhecido que BDSM não cura autoestima


Livia deveria ter:


  • Entrado com calma, não na exaustão

  • Conversado com amigas experientes, não curiosas

  • Criado fronteiras emocionais antes do app

  • Criado um perfil mais reservado e protegido

  • Entendido que submissão não é fuga — é escolha


Conexão...


O prólogo posiciona Dante e Livia exatamente onde o leitor está:


Despreparados,

vulneráveis,

exaustos.


Prontos para entrar no pior lugar possível:


o BDSM Virtual sem filtro.


Agora o Capítulo 1 (“O Labirinto”) pode começar com força total.

Comentários

Avaliado com 0 de 5 estrelas.
Ainda sem avaliações

Adicione uma avaliação
bottom of page