Sadismo: História, Contexto Clínico e BDSM Moderno
- Mestre LenHard

- 1 de set.
- 8 min de leitura

O que é o Sadismo
O sadismo é a capacidade de obter prazer a partir de causar dor, desconforto, submissão ou humilhação, seja física, psicológica ou simbólica. É importante diferenciar suas manifestações:
No BDSM consensual: é uma prática erótica, cuidadosamente negociada e segura.
Fora do contexto consensual: pode indicar transtornos patológicos, especialmente quando envolve compulsão, dano ou ausência de consentimento.
História e Origens
O termo sadismo deriva do nome do Marquês de Sade (1740–1814), escritor francês cujas obras literárias exploraram prazer ligado à dor e à humilhação. Sade não praticava BDSM moderno nem inventou o tema, mas seus textos foram referência histórica para o conceito.
Biografia do Marquês de Sade
Nome completo: Donatien Alphonse François, Marquês de Sade
Nascimento: 2 de junho de 1740, Paris, França
Falecimento: 2 de dezembro de 1814, Charenton, França
Formação: Estudou direito e filosofia; cresceu em uma família aristocrática.
Vida pessoal: Conhecido por sua vida controversa, incluindo prisões por escândalos sexuais e conflitos com autoridades, refletindo tensões entre moral, lei e liberdade pessoal.
Carreira literária: Produziu extensa obra literária, abordando temas como poder, liberdade, moralidade, sofrimento e prazer. Seus textos são notoriamente críticos à sociedade e à religião da época.
Obras e Contexto
Embora suas obras contenham elementos de sexo, dor e dominação, Sade escrevia principalmente críticas sociais à França do século XVIII, abordando moralidade, hipocrisia da nobreza, religião e injustiças políticas. Para leitores superficiais, seus textos podem parecer apenas contos eróticos ou perversões, mas o verdadeiro significado está na crítica e reflexão sobre poder, liberdade e sociedade.
120 Dias de Sodoma (Les 120 Journées de Sodome, 1785)
Escrito enquanto estava preso na Bastilha, é uma obra complexa que explora abusos de poder, perversão e crítica social extrema. A narrativa descreve quatro aristocratas isolados, que submetem vítimas a práticas de dor e perversão, mas o foco central está em analisar a corrupção moral e a decadência da elite francesa, não apenas na sexualidade.
Justine, ou os Infortúnios da Virtude (1791)
Conta a história de uma jovem virtuosa chamada Justine, que sofre inúmeras injustiças e abusos enquanto mantém sua moral intacta. A obra questiona hipocrisia, moralidade e a inversão de valores sociais, mostrando que o mundo recompensa muitas vezes a malícia e pune a virtude.
A Filosofia na Alcova (La Philosophie dans le boudoir, 1795)
Estruturada como diálogos entre jovens libertinos e personagens instruídos, combina erotismo com debates filosóficos e críticas à religião, moral tradicional e instituições sociais. A obra desafia normas e incentiva a reflexão sobre liberdade individual e poder, além de apresentar práticas eróticas consensuais dentro de seu contexto literário.
Juliette ou as Prosperidades do Vício (1797–1801)
Foca na irmã de Justine, Juliette, que escolhe uma vida de vícios e manipulação para prosperar socialmente. A narrativa explora ambição, corrupção, e o pragmatismo moral, mostrando a contrapartida da virtude sofrida de Justine e a vitória dos astutos e inescrupulosos, criticando estruturas sociais e desigualdade.
Diálogos entre um padre e um moribundo (publicado postumamente)
Obra filosófica que apresenta reflexões sobre moral, religião e sociedade, questionando dogmas e instituições, muitas vezes utilizando sátira e ironia. Não se concentra em narrativa erótica, mas reforça o caráter crítico e intelectual de Sade.
Essas obras combinaram literatura, filosofia e transgressão, influenciando a construção histórica do conceito de sadismo.
Libertinagem Sexual de Sade vs. Libertinagem Sociopolítica Atual
A libertinagem sexual de Sade era intrinsecamente literária e filosófica: um instrumento de crítica social e moral da França do século XVIII, explorando as contradições da moralidade, da religião e da hierarquia social por meio de personagens que viviam prazer, dor e transgressão. Seu objetivo não era apenas excitar, mas provocar reflexão sobre poder, corrupção e desigualdade. Já a libertinagem sociopolítica atual, embora compartilhe o termo “libertinagem”, refere-se principalmente a comportamentos de contestação de normas, práticas sexuais liberadas ou expressão política irrestrita, muitas vezes desvinculada de qualquer reflexão ética profunda. Enquanto Sade usava a transgressão como ferramenta crítica e literária, a libertinagem contemporânea tende a ser mais performativa e imediata, centrada em liberdade individual ou contestação social, sem necessariamente carregar a mesma densidade filosófica ou crítica institucional.
O Termo “Sadeano”
O adjetivo “sadeano” é utilizado para descrever ideias, comportamentos ou obras que refletem a filosofia, a estética ou os temas explorados pelo Marquês de Sade. Mais do que indicar práticas sexuais específicas, o termo refere-se à dimensão intelectual e crítica presente em seus textos: o questionamento da moral estabelecida, da religião e das estruturas de poder, frequentemente por meio de personagens que transgridem normas sociais. Em contextos contemporâneos, “sadeano” também pode se aplicar a obras literárias, artísticas ou comportamentos que evocam transgressão consciente, reflexão sobre poder e liberdade, e exploração da ética e do prazer, mantendo sempre a ligação com o espírito crítico e provocador de Sade, e não apenas com o erotismo ou a perversão superficial.
Quando uma pessoa diz ser “sadeano”, geralmente ela está se identificando com a filosofia, estética e espírito crítico do Marquês de Sade, mais do que com atos sexuais específicos.
Em termos claros:
Intelectual e crítico: A pessoa se associa à ideia de questionar normas sociais, morais e religiosas, desafiando convenções e refletindo sobre poder, liberdade e desigualdade.
Estético e literário: Pode admirar ou se inspirar nas obras de Sade, valorizando transgressão consciente, narrativa provocadora e exploração de dilemas éticos, sem necessariamente reproduzir seu conteúdo sexual.
Erotismo consensual (opcional): Algumas pessoas também se identificam com a dimensão erótica das obras, mas sempre no contexto de consentimento e reflexão, distinguindo-se de práticas abusivas ou patológicas.
Em resumo, dizer-se sadeano é mais uma declaração de espírito crítico, transgressão intelectual e apreciação literária, e não um rótulo simplista ligado apenas à perversão sexual.
Relação do Sadeano com o BDSM Moderno
O termo Sadeano no contexto do BDSM moderno não se refere diretamente à prática sexual de causar dor, mas à filosofia e ao espírito crítico que orientam certas abordagens do jogo erótico. Indivíduos que se identificam como sadeanos frequentemente valorizam:
Consciência e reflexão: Assim como Sade usava a transgressão para criticar moralidade e poder, o sadeano moderno busca compreender o significado do prazer, da dor e da dominação dentro de um contexto ético e consensual.
Transgressão segura e consensual: No BDSM contemporâneo, o sadismo consensual pode ser praticado com protocolos, limites claros e comunicação constante, incorporando a ideia sadeana de explorar limites sem infringir autonomia.
Estética e intelectualidade: Para o sadeano, o jogo erótico vai além da simples dor física; envolve experiência sensorial, planejamento, ritual e estética refinada, refletindo a complexidade literária e filosófica das obras de Sade.
Portanto, enquanto Sade escrevia transgressão literária e crítica social, o sadeano moderno no BDSM incorpora esse espírito de exploração consciente, reflexão ética e estética erótica, distinguindo-se do sadismo patológico ou não consensual.
Libertinagem no Século XVIII x Libertinagem Atual
Libertinagem de Sade (século XVIII):
Era intelectual, literária e filosófica, usada como instrumento de crítica social.
Explorava prazer, dor e transgressão, mas principalmente para questionar moralidade, religião, hierarquia e injustiças sociais.
Muitas vezes, as cenas sexuais serviam de metáfora para desigualdades, corrupção ou perversão moral da elite francesa.
O foco não era o ato sexual em si, mas o reflexo crítico e filosófico que ele proporcionava.
Libertinagem atual:
Geralmente se refere a liberdade sexual ou contestação de normas sociais, muitas vezes desvinculada de reflexão ética profunda.
É mais performativa ou experimental, centrada na autonomia individual ou expressão de identidade, sem necessariamente ter a intenção crítica ou literária que Sade imprimia.
Pode incluir práticas sexuais liberadas ou exploração de novos limites, mas sem o mesmo peso de questionamento social e filosófico que caracterizava a obra de Sade.
Sadismo na Antiguidade e Idade Média
Antiguidade: registros de punições físicas e rituais envolvendo dor já existiam em sociedades como Grécia, Roma e culturas orientais, muitas vezes ligados a disciplina ou demonstrações de poder. Não havia uma dimensão erótica consensual reconhecível.
Idade Média: práticas como flagelos religiosos e punições físicas em contextos militares ou sociais tinham função disciplinadora, moral ou punitiva, sem envolvimento erótico.
Século XVIII – Marquês de Sade
Sade documentou de forma intensa e transgressora experiências que uniam prazer e dor, dominação e submissão. Seus textos mais conhecidos incluem 120 Dias de Sodoma e Justine, que exploram relações de poder, sofrimento e prazer sexual. Suas obras chocaram a sociedade da época, levando-o a múltiplos encarceramentos.
Século XIX – Krafft-Ebing
Em 1886, Richard von Krafft-Ebing, psiquiatra austríaco, publicou Psychopathia Sexualis, introduzindo formalmente o conceito de sadismo sexual. Krafft-Ebing descrevia indivíduos que obtinham prazer sexual infligindo sofrimento a outros e considerava essas práticas desvios ou doenças mentais. Esse foi o ponto de partida para a patologização clínica do sadismo.
Século XX – Psiquiatria e Psicanálise
Durante o século XX, a psicanálise e a psiquiatria clássica continuaram a tratar qualquer forma de sadismo ou dominação sexual como possível sintoma de transtorno mental. A perspectiva era centrada em desvios sexuais, independentemente de consentimento, contexto ou impacto social.
Sadismo no BDSM Moderno
No contexto contemporâneo, o sadismo evoluiu para práticas eróticas consensuais e estéticas:
Tipos de Sadismo no BDSM
Sadismo físico: prazer em aplicar dor controlada, como impact play, spanking ou flogging. A intensidade é negociada previamente, respeitando limites e protocolos de segurança.
Sadismo psicológico: prazer derivado da criação de tensão, submissão ou pequenas frustrações, explorando roleplays, dominação verbal e dinâmicas de poder.
Sadismo estético e ritualizado: prazer na execução precisa, na estética de acessórios e na composição da cena, incluindo máscaras artísticas, correias de luxo e cenários sofisticados.
Princípios Centrais
Consentimento absoluto: SSC (Safe, Sane, Consensual) ou RACK (Risk-Aware Consensual Kink)
Comunicação clara: negociação prévia, palavras de segurança e ajustes contínuos durante a cena
Aftercare: cuidado emocional pós-sessão, reforçando segurança e vínculo entre participantes
Aspectos Psicológicos e Emocionais
Empoderamento e controle para o top/sadista
Liberação emocional e sensorial para o bottom/ sub
Intensificação da intimidade, confiança e vínculo entre parceiros
A prática pode promover experiências sensoriais elevadas, desde que realizada com cuidado e respeito mútuo
Estudos clínicos demonstram que praticantes de BDSM apresentam níveis baixos de psicopatologia, e que o sadismo consensual é distinto do sadismo patológico.
Sadismo fora do BDSM – Considerações Clínicas
Quando ocorre sem consentimento, o sadismo pode indicar transtornos psiquiátricos:
Sexual Sadism Disorder (DSM-5): fantasias, impulsos ou comportamentos recorrentes envolvendo sofrimento físico ou psicológico infligido a outro, causando sofrimento clínico ou prejuízo social significativo.
Pode se associar a transtornos de personalidade, como psicopatia ou transtorno antissocial, caracterizados por manipulação, ausência de empatia e desrespeito às normas sociais.
Formas patológicas envolvem compulsão, falta de controle e dano a terceiros.
Evolução Clínica
Historicamente, o sadismo era visto como doença mental. Com a evolução da ciência e da sexualidade humana, essa visão mudou:
Antes: qualquer prazer com dor era patologizado, independentemente de contexto ou consentimento.
Hoje: o sadismo consensual é uma expressão erótica válida. Apenas o sadismo não consensual, compulsivo ou prejudicial é considerado patológico.
Critérios para patologização de parafilias
Sofrimento clínico significativo ou prejuízo social, ocupacional ou familiar
Atos não consensuais, causando dano ou risco a terceiros
Comportamento compulsivo, fora do controle do indivíduo
Se nenhuma dessas condições estiver presente, a prática não é patologizada, mesmo envolvendo dor, dominação ou humilhação.
Mitos e Equívocos
“Marquês de Sade inventou o BDSM” → Falso
“Todo sadismo é doença mental” → Falso; depende de consentimento, impacto emocional e social
“Sadismo é sempre físico” → Falso; dimensões psicológicas e estéticas são legítimas e intensas
Sadismo e Estética ToyMaker
No Studio ToyMaker, o sadismo é explorado de forma sofisticada, erótica e estética:
Acessórios de impacto de couro legítimo, máscaras artísticas e correias de luxo
Roleplays e cenas cuidadosamente planejadas, equilibrando intensidade erótica e segurança
Experiência sensual elevada, conectando tradição literária, psicologia moderna e design refinado
Glossário Resumido
SSC: Safe, Sane and Consensual
RACK: Risk-Aware Consensual Kink
Aftercare: cuidado emocional pós-sessão
Sadismo físico: dor aplicada consensualmente ao parceiro
Sadismo psicológico: tensão e frustração controladas consensualmente
Parafilia patológica: comportamento sexual causando sofrimento ou prejuízo
Conclusão
O sadismo moderno é uma expressão erótica sofisticada, consensual e segura, distinta da violência não consensual histórica ou literária. Sua evolução demonstra a importância do consentimento, da ética, da segurança e da estética, transformando práticas outrora estigmatizadas em experiências refinadas e de alto padrão.
Referências
Krafft-Ebing, R. von. Psychopathia Sexualis. 1886.
Merck Manuals. Sexual Sadism Disorder
Dunkley, C., Brotto, L. Clinical Considerations in Treating BDSM Practitioners: A Review. ResearchGate, 2018. Link
Verywell Mind. Sexual Sadism Disorder
Greatist. BDSM for Beginners
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