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O Mito do “BDSM Real”


Cartaz minimalista em fundo preto com moldura dourada. No centro, em letras douradas, lê-se ‘O Mito do Praticante Real’. No canto superior esquerdo, aparece o logotipo Psicologia Kink em dourado. Elementos esféricos dourados decoram discretamente o canto inferior direito, transmitindo elegância e sobriedade.

Por que tanta gente ainda acredita que só é

“Praticante Real” quem aparece em eventos ou

performa em cenas públicas?


A Raiz da Confusão:

Quando Visibilidade Parece Autenticidade


A crença de que só é “Praticante Real” quem frequenta eventos ou faz cenas públicas surge de um fenômeno simples: o BDSM sempre viveu entre o privado e o secreto. E tudo que é secreto tende a ser validado por quilo que é visível.


Quando a internet explodiu e eventos passaram a ser fotografados, comentados e compartilhados, a ideia de “estar lá” virou um marcador social.


Não é competência.

Não é habilidade.

É apenas presença.


A psicologia chama isso de heurística da visibilidade: aquilo que aparece parece mais verdadeiro do que aquilo que acontece fora do olhar público.


A Mística da Cena Pública:

Ritual, Performance e Ego Social


Uma cena feita em evento é, por definição, uma performance: existe público, existe contexto, existe preparação estética e existe narrativa.


Isso pode ser poderoso. Mas não faz de ninguém mais experiente do que quem pratica em intimidade.


Pesquisadores como Weiss (2011) e Newmahr (2010) observaram que o “campo público” cria:


  • status simbólico


  • rituais de pertencimento


  • códigos de observação


  • validação entre pares


Ou seja: eventos constroem capital social — não necessariamente competência prática.


O Fator Identitário:

Quem Somos Sem Plateia?


Muitas pessoas projetam sua própria insegurança no ambiente público. Para elas, a plateia funciona como um espelho:


Se estão sendo vistas → sentem-se “praticantes válidos”.


Se não são vistas → sentem-se “inexistentes”.


Esse mecanismo é descrito na psicologia social como autoafirmação externa:

a identidade depende da validação do grupo.


No BDSM, isso se manifesta como:


  • “Se ninguém vê, não conta.”


  • “Se não foi em evento, não é real.”


  • “Prática privada é fantasia, não é BDSM.”


Nada disso é verdade. Mas se repete porque cria hierarquia simbólica — e muita gente se apega a hierarquias para se sentir pertencente.


A Realidade Técnica:

Praticantes Silenciosos São a Maioria


Estudos de comportamento sexual alternativo, como os de Reiersøl & Skeid (2006), mostram que:


  • A maior parte dos praticantes não participa de eventos.


  • A maioria não realiza cenas públicas.


  • A prática doméstica ou intimista é estatisticamente dominante.


Ou seja: o grupo dito “invisível” é, na verdade, o mais numeroso.


Quem pratica no privado não é minoria —é apenas menos barulhento.


a) Newmahr — Playing on the Edge (2010)


A antropóloga Staci Newmahr realizou um trabalho etnográfico extenso em grupos BDSM dos EUA. Sua pesquisa mostra que grande parte do “sentimento de autenticidade” no BDSM surge do que é visto e testemunhado entre pares, não necessariamente da profundidade técnica da prática.


Ela descreve como cenas públicas funcionam como um “teatro social” em que:


  • os praticantes observam e avaliam uns aos outros,

  • comportamentos visíveis são considerados mais ‘reais’,

  • e práticas privadas tendem a ser invisibilizadas.


Newmahr identifica um mecanismo de validação coletiva:

“O que é testemunhado tende a ser entendido como mais verdadeiro do que aquilo que não é visto.”

Ou seja, ver = validar.

E não ver = presumir que não existe.


Esse é o primeiro tijolo do mito contemporâneo do “Praticante Real”.


b) Margot Weiss — Techniques of Pleasure (2011)


Weiss também estudou práticas BDSM em espaços públicos. Sua análise revela que eventos e encontros do meio social BDSM criam sistemas de prestígio interno — dinâmicas em que quem aparece mais, performa mais ou é mais visto tende a ganhar um status simbólico maior.


Ela identifica três fenômenos centrais:


  1. Capital de visibilidade — quem performa em público acumula prestígio.

  2. Efeito plateia — comportamentos mudam quando se sabe que há observadores.

  3. Confusão entre popularidade e habilidade — mais visto ≠ mais competente.


Weiss afirma que eventos podem reforçar a ideia equivocada de que o BDSM público é “mais real” porque gera hierarquias claras — algo que o BDSM privado não produz visivelmente.


Isso alimenta o mito de que cena pública = maturidade técnica. E não é verdade.


c) Reiersøl & Skeid (2006)


Esses autores conduziram uma das pesquisas mais amplas sobre comportamento BDSM em países europeus. A conclusão é cristalina:


  • A maioria absoluta dos praticantes vive sua sexualidade alternativa em privado,

  • a presença em eventos é minoritária,

  • e a principal forma de prática é a intimidade doméstica.


Ou seja: o “praticante silencioso” não é exceção — é norma.


Eles também apontam que grande parte do estigma social externo leva muitos praticantes a evitar eventos, reforçando o caráter privado da vivência.


Essa evidência desmonta diretamente o mito do “só é real quem aparece”.


d) Baumeister (1988) — Masochism as Escape from Self


Baumeister não escreveu sobre BDSM como cultura, mas sobre masochismo psicológico e dinâmicas de controle.


Sua teoria mais relevante aqui é a “fuga do self”, que sugere que certas expressões de submissão ou dominação só fazem sentido quando há estrutura, contexto e segurança emocional — elementos que podem existir tanto em público quanto em privado.


O ponto essencial de Baumeister:

A construção da identidade em práticas de poder depende fortemente do modo como o indivíduo se enxerga e é percebido pelos outros.

Aplicado ao BDSM, isso explica por que algumas pessoas só se sentem “praticantes reais” quando vistas — a presença da plateia organiza a identidade delas.


Mas isso não significa que quem não quer ser visto seja menos real — significa apenas que se baseia em outra matriz psicológica, mais interna e menos performática.


e) Goffman (1956) — The Presentation of Self in Everyday Life


Goffman não fala de BDSM, mas explica um conceito universal: papéis sociais são sempre performances — e cada pessoa gerencia sua imagem conforme o público presente.


Aplicado às cenas públicas, funciona assim:


  • O praticante “entra em personagem”

  • ajusta linguagem corporal e gestos,

  • adapta o estilo da dinâmica para o público,

  • e intensifica elementos visuais ou auditivos.


Goffman chama isso de “front stage behavior” — comportamento de palco. Na prática BDSM pública, o “front stage” pode criar a impressão de força, experiência ou controle técnico que nem sempre corresponde à vida íntima da pessoa.


Já o BDSM privado é o “backstage” — onde não há público, máscara nem narrativa performática.


A aplicação direta: Se existe performance, existe também distorção de autenticidade. E isso é normal — não é errado. Mas significa que o público, por si só, não garante realismo.


Essas cinco referências mostram que:


  • visibilidade cria prestígio,

  • prestígio gera hierarquia,

  • hierarquia produz normas implícitas,

  • normas implícitas levam ao mito do “praticante real”.


E todas convergem para a mesma verdade acadêmica:

Ser visto nunca foi pré-requisito para ser real. Ser competente nunca dependeu de

plateia. E autenticidade nunca dependeu de evento.


O Núcleo da Questão: Controle, Ego e Narrativa


Alguns defendem que só “é real” o que acontece em espaço público porque:


  • facilita controle social


  • permite medir o outro


  • fortalece a própria posição no meio


  • cria sensação de pertencimento


  • elimina o medo do invisível


O discurso funciona como uma tentativa de ditar regras para algo que, por natureza, não aceita regras fixas.


É uma forma de gatekeeping: “Se não fizer como eu faço, não é real.”


Mas o BDSM sempre foi diverso, privado e profundamente personalizado.


A Verdade Simples (e Incômoda):


BDSM Real é o Que Acontece Entre Duas Pessoas Que Sabem o Que Estão Fazendo


Não depende de plateia. Não depende de evento. Não depende de foto.


Depende de:


  • consentimento claro


  • maturidade emocional


  • técnica adequada


  • comunicação real


  • ética e responsabilidade


  • autoconhecimento


Quem precisa de palco busca validação. Quem busca verdade constrói intimidade.


Referências Bibliográficas



Encerramento


Você está praticando para ser visto

ou está sendo visto por você mesmo?


Ser real não é aparecer. Ser real é sustentar.


Eventos são vitrines; intimidade é fundamento.

Quem precisa de plateia busca validação.

Quem busca verdade escolhe profundidade.


No BDSM, alguns querem aplausos. Outros querem evolução. Os dois caminhos existem — mas só um te fortalece de verdade.

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