Kink Shaming
- Mestre LenHard

- 25 de jul.
- 4 min de leitura
Atualizado: 23 de ago.

Por Mestre Lenhard,
para o Codex Toymaker
Em uma sociedade que prega liberdade e diversidade, é curioso — e revelador — perceber como o desejo ainda precisa se esconder. A intolerância ao que foge da norma continua viva, apenas trocando a censura aberta por disfarces mais aceitáveis: ironia, suposta preocupação ou humor travestido de opinião.
O nome disso é Kink Shaming.
O que é Kink Shaming?
Kink Shaming é o ato de ridicularizar, desvalorizar ou demonizar práticas eróticas consensuais entre adultos que se desviam do padrão sexual considerado “normal” pela moral dominante. Trata-se de uma tentativa de controlar o que deveria ser livre: a expressão do prazer.
Frases como:
“Isso é coisa de gente doente.”
“Quem gosta disso tem problema mental.”
“Nunca será respeitado(a) praticando isso.”
“Ninguém vai amar alguém assim.”
...não são apenas opiniões grosseiras. São formas de violência simbólica que negam a legitimidade de um desejo adulto, ético e consensual.
Kink shaming é dizer, em outras palavras: “O que você faz com o seu corpo me incomoda — e eu vou te punir socialmente por isso.”
Opinião legítima não é julgamento moral
Nem toda discordância é preconceito. Ter gostos, limites e preferências pessoais é saudável. O problema aparece quando a opinião ultrapassa a esfera individual e se transforma em condenação pública ou ataque moral.
Situação | Kink Shaming? | Por quê? |
“Não gosto de práticas com dor, não combinam comigo.” | ❌ Não | Limite pessoal, sem ofensa ao outro. |
“Quem sente prazer com dor é doente e precisa de terapia.” | ✅ Sim | Patologiza o desejo alheio de forma ofensiva. |
“Não pratico bondage porque me sinto vulnerável.” | ❌ Não | Expressão individual sem julgamento externo. |
“Quem faz bondage é perturbado e não merece respeito.” | ✅ Sim | Desumaniza e humilha com base em uma escolha legítima. |
A diferença está no alvo: Opinião saudável foca no eu. Shaming fere o outro.
Quando o simples também vira alvo:
o Vanilla Shaming
O preconceito também se manifesta contra quem prefere práticas tradicionais e afetivas. Isso se chama Vanilla Shaming: o desdém ou escárnio contra relações consideradas “simples demais”.
Exemplos comuns:
“Você ainda faz amor com carinho? Que vergonha...”
“Sexo sem dominação é muito sem graça.”
“Hetero demais pra mim.”
Essas frases, travestidas de humor ou ironia intelectualizada, perpetuam a mesma lógica de exclusão do kink shaming: a de que apenas um tipo de prazer merece respeito.
Na verdade, todo desejo consciente e consensual merece espaço e dignidade.
Dois extremos, um problema em comum
Tipo | Definição | Frases Comuns |
Kink Shaming | Julgamento e desdém contra práticas alternativas | “Isso não é normal.” / “Você precisa de ajuda.” |
Vanilla Shaming | Ridicularização do sexo convencional e afetivo | “Isso é coisa de gente reprimida.” / “Sem graça demais.” |
Ambos são formas de intolerância disfarçadas de opinião. E nenhum deles cabe em um ambiente sexual maduro, ético e respeitoso.
Os danos invisíveis: muito além de palavras
O kink shaming tem consequências emocionais profundas. Ele:
Incentiva o abandono de práticas prazerosas por medo
Diminui a autoestima de quem vive fora da norma
Silencia iniciantes e marginaliza comunidades
Rompe laços de confiança entre pares
Na prática, o kink shaming sufoca a liberdade e reforça a normatividade com violência simbólica. No Studio Toymaker, criamos acessórios que celebram justamente o oposto: a expressão plena e digna do desejo com estética, respeito e refinamento.
O que diz a lei brasileira?
Embora o kink shaming não esteja nominalmente tipificado em nossa legislação, ele pode configurar crime ou infração civil quando extrapola o direito à opinião e atinge a honra ou dignidade de alguém.
Art. 5º, inciso X da Constituição Federal Garante o direito à intimidade, vida privada, honra e imagem, com indenização por danos morais.
Art. 5º, inciso XLI da Constituição Federal Determina que a lei punirá qualquer discriminação atentatória aos direitos fundamentais.
Código Penal – Artigos 138 a 140 Calúnia (138): Atribuir falsamente um crime a alguém Difamação (139): Ofender a reputação Injúria (140): Ofender a dignidade ou decoro pessoal
Além disso, dependendo do teor da fala, o kink shaming pode reforçar crimes de ódio, como:
Racismo e Injúria Racial (Lei nº 7.716/89 e STF)
Homofobia / Transfobia (STF – ADO 26)
Intolerância religiosa (Art. 208 do Código Penal)
✦ Glossário jurídico rápido
Termo | Significado |
Crime tipificado | Conduta prevista em lei com pena específica. Ex: racismo, homofobia. |
Conduta discriminatória | Atitude ofensiva que, mesmo sem ser crime, pode gerar dano moral ou consequências civis. Ex: gordofobia. |
Opinião legítima | Gosto ou preferência pessoal, desde que não envolva ofensa ou humilhação. Ex: “Essa prática não é para mim.” |
Limites do debate: o que está fora do universo kink
Práticas como pedofilia, zoofilia e quaisquer formas de exploração de vulneráveis não fazem parte da cultura kink.
“Práticas como essas não são fetiches: são crimes graves, pois envolvem ausência de consentimento, abuso de vulneráveis e violação de dignidade. Elas pertencem ao campo da patologia criminal — não ao erotismo adulto, responsável e ético.”
Colocá-las no mesmo debate serve apenas para deslegitimar quem vive o prazer com consciência, maturidade e respeito.
Conclusão
Kink shaming não é uma opinião ingênua — é uma forma velada de censura moral. É um reflexo de uma sociedade que tolera a diversidade apenas enquanto ela se comporta como a maioria.
Respeitar o desejo do outro não significa concordar — significa entender que ele não te pertence.
Você não precisa gostar, praticar ou sequer entender. Basta não julgar. O prazer legítimo, consensual e adulto não pede permissão — ele exige dignidade.
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