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Foto do escritorMestre LenHard

DOXING NO BDSM



Doxing (ou doxxing) é o termo em inglês para o compartilhamento de informações privadas de alguém sem seu consentimento geralmente com intenções maliciosas, na internet ou fora.


No meio BDSM e fetichista, isso geralmente assume a forma de compartilhar a identidade kink de alguém com amigos próximos, familiares, trabalho e outros parceiros. Compartilhar a identidade kink de alguém por meio de e-mails, cartas e telefonemas também é uma forma de doxing.


A grande maioria dos praticantes de BDSM e Fetiches, não endossa o doxing, já que a ação em si é uma violação dos limites pessoais de alguém e é essencial uma tentativa de envergonhar esse indivíduo por sua identidade fetichista / bdsm.


O doxing pode assumir diversas formas, desde a publicação do nome real de um individuo (por isso usamos apelidos) ou outras informações privadas em sites de mídia social até o compartilhamento de fotos, textos e/ou vídeos do indivíduo com seus entes queridos ou até mesmo com funcionários e patrões.

 

PORQUE KINKSTERS SÃO DOXADOS?


As razões porque alguém compartilha a identidade kink de outra pessoa sem o seu consentimento são tão variadas quanto as razões para qualquer outra forma de crime. Sim doxing pode ser tipificado como crime dentro o marco da internet e da legislação brasileira, leia abaixo.


Alguns kinksters podem fazer doxing por ficarem furiosos ou com o coração partido por parceiros que traiam ou que desenvolvem ciúmes, infringindo dor em seu ex. Outras vezes pode ser parte de uma chantagem para que outro kinkster faça exatamente o que o ser malicioso deseja, como muitos Haters e Stalkers fazem. As motivações do doxing também não precisam ser tão claras, como o caso que o perfil kink seja compartilhado com a família que não sabe ou seu local de trabalho, onde existam indivíduos que podem ser afetados com tal informação.


EXEMPLOS DE DOXING PODEM INCLUIR FOTOS PORNOGRÁFICAS VINGATIVAS, CHANTAGENS OU COMPARTILHAMENTO DE PERFIS KINKS NAS REDES SOCIAIS DE FAMILIARES E MEIO PROFISSIONAL.

COMO POSSO EVITAR SER DOXADO?


Além de se assumir completamente ou nunca compartilhar seus problemas pessoais com ninguém online ou em sua vida, o risco de ser doxado (exposto) sempre existirá.


No entanto, existem maneiras de diminuir esse risco. Leia os textos: Mantendo seus Kinks Privados e Mantendo a Segurança em Redes Sociais Kink.


O QUE EU FAÇO SE ESTIVER SENDO DOXADO?


Ser doxado (exposto) pode ser prejudicial para seus relacionamentos pessoais e profissionais e pode conter um significativo controle de dano.


Não é recomendado iniciar uma ação legal contra quem te doxou, por mais injusta que tenha sido o ato de te expor. Tenha em mente que na maioria dos países BDSM e Fetiches figuram como ações ilegais, então você corre um risco muito grande de ver essa situação virada ao avesso contra você em um tribunal legal. No entanto se você foi infiel a um parceiro e deseja reparar esse relacionamento, admitir sua desonestidade e estar disposto a ouvir seu parceiro pode ajudar muito na cura, desde que seu parceiro traído também esteja disposto a resolver o conflito.

Dependendo da natureza das informações compartilhadas, sua melhor ação é ser honesto e aberto sobre sua identidade kink.


As pessoas que praticam dox, muitas vezes contam com as normas sociais para serem usadas contra você. Por esse motivo, também é extremamente importante que você faça o possível para ser gentil consigo mesmo e evitar sentimentos de vergonha ou culpa por ser BDSM ou fetichista.


Conversar com outros amigos kinksters também pode ser uma forma de apoio e conforto em momentos difíceis como este. Esse é um dos motivos da criação do grupo de estudos Kinky Society, para ser um porto seguro de apoio e troca de informações reais e pouco divulgadas. Se tem o interesse em ingressar, clique nesse link para ser redirecionado à sala de triagem. Independente das informações compartilhadas, você também pode explorar o aconselhamento, sozinho ou com aqueles que também foram afetados.


Se você estiver pensando em expor alguém, recomendo que converse com amigos e familiares que pensam como você, ou com um mentor bdsm que possa ajuda-lo a lidar e trabalhar seus sentimentos de uma forma que não cause dano a outras pessoas.

“Internet é uma terra sei lei”, essa frase soa familiar para você?

 

O QUE DIZ A LEI BRASILEIRA?


Muitas pessoas acreditam que, pelo simples fato estar atrás da tela de um computador ou de um celular, o individuo que acessa a internet estará seguro com o anonimato sob a publicação ou, ainda, que não precisa se preocupar com as consequências de suas suas ações e omissões no mundo online.


Já te digo de antemão que a sensação de anonimato que a Internet proporciona é falsa.

 

Veja, a Internet é um ambiente livre, mas não é um ambiente livre de regras jurídicas. A “legislação do mundo off-line” incide sobre o “mundo online“.


A pessoa que se dispõe a fazer uma postagem,tem que ter a consciência de que essa postagem pode ter repercussões contra ela, E MAIS, quem compartilha também pode ser responsabilizado pelos danos causados.


Séculos atrás, o filósofo Descartes ditou a frase: “Penso, logo existo”. Atualizada para nossos dias tecnológicos, podemos dizer que: “Público, logo existo”.

 

Os indivíduos, na maior parte do tempo e sem pensar nas consequências,

publicam fotos, compartilham localizações, adicionam diversos amigos virtuais, e não se preocupam com sua imagem, com sua privacidade, tampouco lembram dos direitos e garantias de outrem.


Atenção a um detalhe muito importante: A responsabilidade por atos ou omissões praticado na internet pode surgir em qualquer das formas de utilização dela. Pode ocorrer em redes sociais, na troca de e-mails e arquivos, no uso de lojas virtuais, em blogs e em qualquer outro site ou forma de interação eletrônica.

 

Quando se abre uma mensagem encaminhada pelo WhatsApp, por exemplo, que te remete a uma página online, você pode ter aberto a porta do seu dispositivo ao hacker, simples assim.

 

Por mais comum que possa parecer a criação de perfis falsos em redes sociais, ou o compartilhamento de conteúdos na internet, sem qualquer averiguação da veracidade, temos que ter a noção de que o nosso direito começa quando termina o do outro, e isso não diferente no mundo da internet.

 

O direito de imagem está ligado a tudo que identifica o sujeito. E olha que brincadeira cara tudo isso pode sair: essa mesma pessoa exposta e ofendida nem sequer necessita de prova do prejuízo para conseguir a indenização pela publicação não autorizada quando a imagem é utilizada para algum fim econômico ou comercial. (Súmula 403 STJ)

 

Havendo a veiculação de imagens pessoais e profissionais sem a devida autorização, independentemente do meio tecnológico utilizado, haverá o dever legal de reparação, garantido pela nossa Constituição Federal que prevê que a violação da intimidade, da vida privada, da honra e da imagem das pessoas, origina o direito a indenização pelo dano material ou moral.

 

Basta colocar no Google a referencia de condenação por exposição nas redes sociais sem autorização que se encontra logo de inicio diversas publicações de decisões dos tribunais a respeito, e isso não é algo que podemos encarar como natural!

 

Um outro exemplo que ficou muito famoso no Brasil foi o caso da atriz Carolina Dickermann, que teve suas fotos íntimas compartilhadas, até mesmo em sites de conteúdo adulto, após um hacker ter acessado seu computador pessoal.

 

Em razão da comoção do ocorrido, a Lei 12.737 de 30 de novembro de 2012, que tipifica alguns crimes digitais, ficou conhecida popularmente como “Lei Ana Carolina Dickerman”.

 

Essa mesma lei passou a prever como CRIMES a invasão de computadores alheios sem o consentimento do dono, a coleta informações pessoais que possam gerar algum tipo de dano, bem como a venda de programas que permitem a invasão de sistemas.

Basta que o agente invada o computador alheio ou denigra a imagem nas mídias sociais para cometer o crime.


Existem três crimes contra a honra que normalmente nos deparamos nas redes sociais:


Calúnia: consiste em publicar a atribuição à alguém da autoria de um crime, sem qualquer prova para tanto. Pena – detenção, de seis meses a dois anos, e multa. Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a imputação, a propala ou divulga – OLHA O PERIGO DE QUEM SAÍ COMPARTILHANDO NOTÍCIA, já que “se tá na internet, é porque é verdade”, né?

 

Difamação: consiste em publicar a imputação a alguém de um fato ofensivo a sua reputação, embora o fato não constitua crime. É o caso, por exemplo, de sair falando que a Maria, que é casada com João, está o traindo com José – não é crime, mas é um fato que a sociedade condena como imoral e acabará atingindo a honra da Maria, ainda que seja verdade. Pena – detenção, de três meses a um ano, e multa.

 

Injúria: é o famoso xingamento (quando se dirige à pessoa algo desonroso e que ofende a sua dignidade), só que aqui o ato é feito diretamente para a pessoa. Pena – detenção, de um a seis meses, ou multa. Na hipótese da injúria envolver elementos referentes à raça, cor, etnia, religião origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência, a pena é AUMENTADA.

Mas quando o ato é cometido por menor de idade??

 

Menor de idade não comete crime, comete ato infracional. Considera-se ato infracional a conduta descrita como crime ou contravenção penal.

O Estatuto da Criança e do Adolescente sujeita o menor a advertência, obrigação de reparar o dano, prestação de serviços à comunidade, liberdade assistida, inserção em regime de semi-liberdade, internação em estabelecimento educacional e outras medidas de proteção.

 

E calma lá! São também responsáveis pela reparação civil os pais pelos filhos menores, ainda que não haja culpa de sua parte.


E o que fazer se tiver minha imagem exposta sem autorização?

 

Imagine que sua foto seja publicada e compartilhada sem o seu consentimento, e que isso acabe se tornando ofensivo, atingindo diretamente sua honra e respeitabilidade, só que num espaço mundo maior – na internet.

 

Essa violação pode ser combatida tanto extrajudicialmente (com notificações de uso indevido da imagem, atas notariais, registros de Boletim de Ocorrência) como na esfera judicial (com responsabilização civil e criminal, se for o caso).


O mero fato de praticá-los em ambiente virtual NÃO isenta o individuo das consequências jurídicas. Lembre-se: a imagem tem proteção legal, e o individuo lesado tem o direito de recorrer à Justiça para pleitear a retirada imediata do conteúdo, como também indenização decorrente da violação, seja de ordem moral, seja de ordem material.


UM RELATO PESSOAL


Lá pelos meus vinte e um anos de idade (hoje tenho 42) sofri pela primeira vez um doxing vindo de uma fonte que eu jamais esperava meu próprio pai. Na época, a internet ainda estava no inicio e nós usávamos o Orkut (primeira rede social hoje extinta), e sinceramente eu não ligava muito para a segurança das minhas informações, erro meu. Como eu vivia em meios alternativos, Gótico, RPG, Noite, não me preocupava com as pessoas saberem ou não o que eu fazia e creio que muitos jovens hoje pensam da mesma forma. Mas aí que está, a exposição é possível sim e isso pode causar um mal muito grande.


No caso meus pais estavam separados (com meu pai cometendo adultério) e como uma forma de machucar minha mãe, a amante de meu pai fez o doxing. Qual melhor maneira de atacar seu ex-parceiro do que usar os filhos? Pois foi isso que ela fez, printou minhas redes sociais, minhas fotos (hoje não posto mais foto de sessão justamente por isso), grupos que eu fazia parte, perfis de amigos, parceiras, etc. Criou um calhamaço de paginas com mais de 100 folhas, colocou em um envelope de papel pardo e deu para meu pai, mostrar as “putarias” que o filho mais velho de minha mãe fazia. Ele fez isso na minha frente, como se estivesse dando um tipo de lição de moral, para tentar justificar o porque também ter feito a traição (hoje eu consigo pensar isso), e com isso meu pai conseguiu terminar de “destruir” a família por pura vingança.


Aí veio um período horrível da minha vida, onde morava na mesma casa com pessoas (mãe, irmão, avô) que me olhavam com nojo e desprezo. Eles não podiam sequer imaginar o que eu fazia, e eu que me achava muito moderno e esperto de não ligar para o que as pessoas pensavam, aprendi que a família essa sim tem um impacto monstro na gente. Se uma pessoa na rua me soubesse, estava pouco me lixando, mas a mãe olhar nos seus olhos e sentir nojo de você? Você só não sente o peso disso, se não nutrir nenhum sentimento.


Com o tempo (e põe tempo nisso) os sentimentos se acalmaram e eu pude ter uma conversa adulta com meus familiares sobre o que era o BDSM para mim, expliquei em detalhes não pervertidos, fui estudar o lado psicológico para embasar minha explicação (entenderam porque gosto tanto de escrever sobre isso?) e fui gradativamente explicando tudo para eles. Dizer que acharam legal e que concordam seria uma grande mentira, até hoje eles não entendem, mas aceitam que é parte de quem eu sou e que isso não vai mudar. Ser bdsm e fetichista não me faz uma pessoa ruim, não me faz uma pessoa que não crê em Deus (seja que Deus for), não me faz ser contra a família, bons costumes ou à moral; ser BDSM é algo meu e aprendi por esta experiência horrível que não deve ser imposto à sociedade. Lógico que minha Mãe não sai por aí falando para os parentes e amigos com orgulho que eu sou BDSM, mas também não vai contra. Temos que entender que cada geração e pessoa pensa de uma forma diferente.


Aí você se perguntam e meu Pai (e lógico minha “madrasta”)? Foi um processo longo de perdoar, fiquei uns bons anos brigado com meu Pai, por conta disso sem nos falarmos. Depois que eu trabalhei internamente os meus sentimentos, aí sim pude voltar a conversar com ele, fazer o mesmo processo que anos antes tinha feito com Mãe e outros familiares. Meu pai até hoje não aceita, falava até “as suas preferências” para amigos dele (que achavam que eu era Gay, nada contra ser gay, mas não era o caso). Isto era algo interno de meu pai, ele precisaria agora compreender que fez errado em pre-julgar o filho, e foi um processo que hoje está sanado. No entanto foram mais de 20 anos de esforço pessoal para chegar nesse entendimento.


Após esse ocorrido de exposição pesada, dentro do ambiente familiar (que serei sincero, não desejo para ninguém, nem para o meu maior desafeto) vieram inúmeras pessoas dentro do meio BDSM, tentar fazer Doxing comigo ao longo dos anos. Lógico, eu falava (e ainda falo) sobre temas que fazem as pessoas pensarem, e isso incomoda muito os RedFlags, haters e stalkers do meio BDSM. E a chantagem típica sempre foi, “vou contar para a sua família”.  No caso eu até dou risada quando vem esse tipo de chantagem, porque pior do que o relato acima, um hatter não vai fazer. Como eu não tenho um trabalho formal com patrão, ou uma carreira em uma empresa, eu realmente não me preocupo, mas é um aviso importante para outras pessoas que estão no mercado de trabalho tradicional. Sim esse tipo de exposição pode causar até mesmo a sua demissão ou manchar sua reputação a ponto de você não conseguir outro emprego na sua área de trabalho.


Então como o Doxing ainda me afeta, e sim, ele pode ainda me afetar. Os hatters muito criativos e maliciosos como o são, começaram a “inventar” informações sobre a minha pessoa. É claro sem nenhuma prova só a palavra deles. Eis que Boletim de Ocorrência falsos começaram a ser criados (e você pode criar um B.O. falso no site de policia militar e imprimir para expor uma vitima, o problema é se você for chamado pela policia para confirmar os dados e eles não forem verídicos, nesse momento o jogo vira contra você), “denuncias” falsas e toda a sorte de FakeNews que se pode imaginar. Então o Doxing não precisa apenas ser de informações reais, a pessoa que vai lhe causar o mal pode inventar um monte de coisas para incrementar o problema. E aí mora outro perigo, onde eles forçam que a vítima tenha que provar sua inocência, para quem o acusa. Quando na realidade quem tem que provar os fatos é o acusador, mas vivemos em uma sociedade que não se importa muito com isso, ainda mais se for alguém que você não gosta.


Então é isso, um relato verídico sobre o que o doxing pode causar na vida de uma pessoa, praticante de BDSM, fetichista e kinkster. Portanto não ache que porque eu “posso” expor meu rosto e minhas experiências, que você também possa e deva fazer. Siga a dica de quem já tem mais experiência de vida.


NO MUNDO KINK, O CONSENTIMENTO ESTÁ NO CENTRO DE TUDO O QUE FAZEMOS. DOXING NÃO APENAS VIOLA O CONSENTIMENTO, MAS TEM O POTENCIAL DE ROMPER RELACIONAMENTOS, CARREIRAS E LAÇOS PROFISSIONAIS.

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