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Guia Completo sobre CONSENSUALIDADE



Guia Completo sobre consensualidade

O consentimento é um acordo verbal e não verbal holístico para toda e qualquer interação interpessoal. É frequentemente usado no contexto de atividade sexual ou outras formas de toque, embora existam muitos outros tipos de consentimentos.


Como funciona o consentimento?


Quando você está envolvido em atividade sexual, o consentimento tem a ver com comunicação . E isso deve acontecer sempre, para todo tipo de atividade. Consentir para uma atividade, uma vez, não significa que alguém dê consentimento para outras atividades ou para a mesma atividade em outras ocasiões. Por exemplo, concordar em beijar alguém não dá permissão a essa pessoa para tirar suas roupas. Fazer sexo com alguém no passado não dá permissão a essa pessoa para fazer sexo com você novamente no futuro. É importante discutir limites e expectativas com seu parceiro antes de iniciar qualquer comportamento sexual.


Você pode mudar de ideia a qualquer momento.


Você pode retirar o consentimento a qualquer momento se se sentir desconfortável. Uma maneira de fazer isso é comunicar claramente ao seu parceiro que você não se sente mais confortável com esta atividade e deseja parar. A retirada do consentimento às vezes pode ser desafiadora ou difícil de fazer verbalmente, portanto, dicas não-verbais também podem ser usadas para transmitir isso. A melhor maneira de garantir que todas as partes se sintam confortáveis ​​com qualquer atividade sexual é conversar sobre isso, verificar periodicamente e certificar-se de que todos os envolvidos consentem antes de escalar ou alterar as atividades.

Para que o consentimento seja válido, deve conter os seguintes fatores:


Compreensão Clara : todas as partes envolvidas devem saber e compreender o que estão e o que não estão concordando. Qualquer ambiguidade pode impedir o verdadeiro consentimento, por isso deve-se dedicar tempo e atenção para garantir que o que cada pessoa concorda ou não concorda seja totalmente explicado e que quaisquer perguntas sejam respondidas antecipadamente e durante a interação. As barreiras para uma compreensão clara do que está sendo solicitado podem incluir diferenças na fluência do idioma, desafios no processamento auditivo e diferentes entendimentos da definição de termos ou coloquialismos.


De mente e corpo sãos: O consentimento não pode ser dado quando uma pessoa não está totalmente no controle de suas faculdades físicas e mentais. Drogas, álcool e outros inibidores sensoriais podem alterar a nossa compreensão do que fazemos ou não queremos fazer. Outros fatores podem incluir distração ou perturbação física e mental, como quando estamos confusos, com medo ou exaustos. Esperar até que todas as partes estejam descansadas, seguras, calmas e tenham suas necessidades de sobrevivência física atendidas antes de consentir é fundamental.


Equilíbrio de Poder: A dinâmica de poder é sempre um fator na comunicação interpessoal, e buscar encontrar parceiros e relacionamentos que equilibrem a balança é vital para o consentimento. Todas as partes devem ter idade para consentir e nenhuma pessoa deve ter o poder de controlar, punir ou provocar medo sobre a outra. Quaisquer desequilíbrios de poder devem ser discutidos abertamente e as preocupações exploradas para garantir o máximo de segurança possível. Por exemplo, se uma pessoa tem poder sobre o trabalho ou os rendimentos da outra, a parte menos estável economicamente deve ter a garantia de que a segurança econômica não será revogada como conseqüencia de não ter dado o seu consentimento.


Contínuo: O consentimento não é dado com restrições de tempo. Só porque dizemos sim a algo de uma só vez não significa que estamos dizendo sim a outras interações ou que o nosso consentimento não pode ser revogado a qualquer momento. O consentimento deve ser renovado e afirmado verbalmente e não verbalmente ao longo de um momento ou relacionamento contínuo.


Entusiasmo : O consentimento é uma experiência de corpo inteiro. Se o nosso sim for recebido com músculos tensos ou olhos baixos, devemos fazer uma pausa e descobrir de onde vêm esses sinais físicos e abordar a causa raiz. O verdadeiro consentimento deve ser alegre, evocando uma sensação de excitação e paz em todo o nosso sistema nervoso. Prestar atenção às mudanças na linguagem corporal durante qualquer interação é a base para ser um parceiro focado no consentimento.


Outros termos que são frequentemente ouvidos em torno do consentimento incluem:


Metaconsentimento : Também é conhecido como não consentimento consensual ou cansentimento geral. Refere-se ao consentimento dado antecipadamente para todas as atividades subsequentes, tanto conhecidas quanto desconhecidas. Também pode se referir ao consentimento dado a cenas em que a submissa interpreta a revogação do consentimento. Este termo é mais frequentemente usado em relacionamentos BDSM de confiança.


Consentimento Dinâmico: Refere-se ao consentimento que se concentra na comunicação contínua. Este fator deve estar presente em qualquer forma de consentimento, mas é discutido especificamente quanto a formas adicionais de afirmar que a comunicação contínua será garantida.


Consentimento informado: Consentimento informado é um termo que tende a ser usado em comunidades BDSM, onde o consentimento verdadeiro pode exigir conhecimento e/ou experiência com um determinado ato, tipo de jogo ou dinâmica. Como algumas atividades BDSM podem causar traumas físicos ou emocionais, lesões ou até morte, é essencial que as pessoas compreendam as atividades e as suas implicações ao dar consentimento para participar. O consentimento informado é uma parte fundamental da negociação BDSM, que deve ocorrer antes de todos os tipos de brincadeiras.


Idade de Consentimento: A idade de consentimento é um padrão que esclarece, muitas vezes legalmente, quando uma pessoa pode consentir em atividades e quando é muito jovem para compreender plenamente com o que está a concordar em qualquer contexto sério. Esta idade é frequentemente controversa, uma vez que as idades são muitas vezes escolhidas sem reflexão sobre o desenvolvimento do cérebro e são culturalmente subjetivas. Na América do Norte,a idade geral de consentimento é entre 16 e 18 anos de idade, já no Brasil, a maioridade legal (ou seja a idade em que se pode consentir atividades como adulto consiente) é de 18 a 21 anos. Num contexto sexual, se a idade de consentimento for 18 anos, isto significa que uma pessoa com menos de 18 anos é considerada legalmente incapaz de consentir com a atividade sexual, no caso de nosso país (Brasil) atividades de cunho sexual com menores de idade legal, se enquadra no crime de pedofilia (artigo 241-E do Código Penal Brasileiro  “cena de sexo explícito ou pornográfica”) de acordo com o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), tendo outros artigos e crimes imputados como: os crimes contra a dignidade sexual, possuindo capítulo específico acerca dos crimes sexuais contra vulneráveis: art. 217-A – estupro de vulnerável; art. 218 – mediação de menor de 14 anos para satisfazer a lascívia de outrem; art. 218-A – satisfação da lascívia mediante a presença de menor de 14 anos; 218-B – favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração sexual de criança, adolescente ou vulnerável. O ECA também trata de crimes envolvendo a pedofilia: art. 240 do ECA – utilização de criança ou adolescente em cena de sexo explícito ou pornográfica; art. 241 do ECA – comércio de material pedófilo; art. 241-A do ECA – difusão de pedofilia; art. 241-B do Eca – posse de material pedófilo; art. 241-C do ECA – simulacro de pedofilia; art. 241-D do ECA – aliciamento de crianças.  


Consulte seu advogado ou mesmo o site da Jusbrasil, para saber mais sobre os termos e artigos. E não entre naquela idéia popular de que se for consensual com menor de 15 anos de idade e os pais ou responsáveis souberem não tem problema, tem problema sim, é crime, tanto pelo ECA, quanto pelo código Civil e até mesmo Moralmente falando. O praticante sério de BDSM não age contra a lei e abomina a pedofilia.


O que é consentimento entusiástico?


O consentimento entusiástico é um modelo mais recente para compreender o consentimento que se concentra em uma expressão positiva de consentimento. Simplificando, consentimento entusiástico significa procurar a presença de um “sim” em vez da ausência de um “não”. O consentimento entusiástico pode ser expresso verbalmente ou por meio de sinais não-verbais, como linguagem corporal positiva, como sorrir, manter contato visual e balançar a cabeça. Estas pistas por si só não representam necessariamente consentimento, mas são detalhes adicionais que podem refletir consentimento. É necessário, porém, ainda buscar confirmação verbal. A parte importante do consentimento, entusiástico ou não, é verificar regularmente com seu parceiro para ter certeza de que eles ainda estão na mesma página.


O consentimento entusiástico pode ser assim:


·          Pedir permissão antes de alterar o tipo ou grau de atividade sexual com frases como “Está tudo bem?”

·          Confirmar que existe interesse recíproco antes de iniciar qualquer toque físico.

·          Avise ao seu parceiro que você pode parar a qualquer momento.

·          Verifique periodicamente com seu parceiro, como perguntar “Ainda está tudo bem?”

·          Fornecer feedback positivo quando você se sentir confortável com uma atividade.

·          Concordar explicitamente com certas atividades, seja dizendo “sim” ou outra declaração afirmativa, como “Estou aberto a tentar”.

·          Use dicas físicas para que a outra pessoa saiba que você se sente confortável em levar as coisas para o próximo nível (veja a nota abaixo).


Observação: respostas fisiológicas como ereção, lubrificação, excitação ou orgasmo são involuntárias, o que significa que seu corpo pode reagir de uma maneira mesmo quando você não consente com a atividade. Às vezes, os ameaçadores usam o fato de que essas respostas fisiológicas ocorrem para manter o sigilo ou minimizar a experiência do sobrevivente, usando frases como: “Você sabe que gostou”. De forma alguma uma resposta fisiológica significa que você consentiu com o que aconteceu. Se você foi abusado ou agredido sexualmente, a culpa não é sua.


O consentimento NÃO se parece com isto:


·          Recusando-se a reconhecer “não”

·          Um parceiro que está desligado, indiferente ou visivelmente chateado

·          Assumir que usar certas roupas, flertar ou beijar é um convite para algo mais

·          Alguém com menos de idade legal para consentimento, conforme definido pela lei.

·          Alguém que está incapacitado por causa de drogas ou álcool

·          Pressionar alguém para atividade sexual usando medo ou intimidação

·          Supondo que você tenha permissão para praticar um ato sexual porque já fez isso no passado


IMPORTANTE: Caso você tenha sofrido algum abuso ou violência sexual entre em contato com o número de telefone 100, canal de denúncias oficial do Governo Federal, vinculado ao Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, que pode receber denúncias anônimas de qualquer violação de direitos, incluindo situações que envolva violência sexual contra crianças e adolescentes.


Embora as visões culturais em torno do consentimento tenham evoluído durante anos na comunidade kink, o termo começou a emergir na cultura comum no final dos anos 90 e início dos anos 2000, principalmente sobre questões de agressão sexual no meio BDSM/ kinky internacional.


FRIES


Nos países de língua Inglesa, eles tem uma sigla chamada FRIES (que na tradução seria Batata Frita, aquelas de fastfood) só que nesse caso significa: Freely Given, Reversible, Informed, Enthusiastic e Specific = FRIES. A brincadeira ajuda a resumir elementos importantes do consentimento, como em Português não dá para ter nenhuma palavra que faça sentido só trago a tradução mesmo.  


F: Consentimento Livre (Freely Given) = Consentir é uma escolha que você faz sem pressão, manipulação ou sob a influência de drogas ou álcool.


R: Reversível (Reversible) = Qualquer pessoa pode mudar de idéia sobre o que deseja fazer, a qualquer momento. Mesmo que você já tenha feito isso antes e mesmo que ambos estejam nus na cama.


I: Informado (Informed) = Você só pode consentir com algo se tiver a história completa. Por exemplo, se alguém diz que usará camisinha e não o faz, não há consentimento total.


E: Entusiasmado (Enthusiastic) = Quando se trata de sexo, você só deve fazer coisas que QUER fazer, e não coisas que acha que devem fazer.


S: Específico (Specific) = Dizer sim para uma coisa (como ir para o quarto para beijar) não significa que você disse sim para outras pessoas (como fazer sexo).


Você tem a palavra final sobre o que acontece com seu corpo. Não importa se você já ficou namorando antes ou mesmo se disse sim antes e depois mudou de idéia. Você pode dizer “pare” a qualquer momento e seu parceiro precisa respeitar isso.


O consentimento nunca está implícito em coisas como seu comportamento passado, o que você veste ou aonde vai. O consentimento sexual é sempre comunicado de forma clara – não deve haver dúvidas ou mistério. Silêncio não é consentimento. E não é importante apenas na primeira vez que você está com alguém. Casais que já fizeram sexo antes ou mesmo aqueles que estão juntos há muito tempo também precisam consentir antes do sexo – sempre.

Existem leis sobre quem pode consentir e quem não pode. Pessoas bêbadas, drogadas ou desmaiadas não podem consentir com sexo. Existem também leis para proteger os menores (pessoas com menos de 18 anos) de serem pressionados a ter relações sexuais com alguém muito mais velho do que eles.


A idade de consentimento sexual é a idade que uma pessoa precisa ter para ser considerada legalmente capaz de consentir com o sexo. Adultos que fazem sexo com alguém com menos de idade de consentimento enfrentam pena de prisão e são registrados como agressores sexuais. A idade de consentimento varia em diferentes países. Também pode haver outras leis que definam a idade de consentimento sexual em cada país e cultura.


STARS


É outra sigla usada em países de língua inglesa onde STARS é uma estrutura que ajuda a ter discussões significativas e íntimas, baseadas no consentimento, que são vitais para relacionamentos saudáveis. 

Abaixo segue o significado de cada letra da sigla:


S: Segurança (Security)

Minhas necessidades de segurança sexual, emocional, espiritual, cultural e psicológica

O sexo mais seguro não consiste apenas em preservativos e contraceptivos. 

Sentir-se seguro é o aspecto MAIS importante do bom sexo e de um relacionamento saudável. O STARS trata da cocriação de um espaço seguro, comunicando todas as áreas onde a segurança é necessária. Isto vai além da “conversa sobre sexo seguro” sobre ISTs e prevenção da gravidez. Explorar as áreas da segurança emocional, física, espiritual, cultural e psicológica é essencial. 

Por exemplo: 

·          O uso de álcool e/ou outros intoxicantes

·          Como é o seu corpo quando não se sente seguro

·          Saúde mental e fatores emocionais 

·          Sua relação com espiritualidade e sexo, ou seus valores religiosos e sexo

·          Valores e tradições culturais

·          O que seu corpo pode ou não suportar fisicamente

 T: Ligações (Turn-ons)

Minha experiência  e minhas revelações sobre saúde sexual

Não somos leitores de mentes. Mesmo as pessoas em relacionamentos de longo prazo nem sempre conseguem dizer o que seus parceiros querem ou desejam. Aprender como estar com um novo parceiro requer abertura para falar, ouvir e observar. Expressar desejos e explorar juntos pode ser um dos aspectos mais emocionantes de um relacionamento sexual em desenvolvimento, mas mesmo em um encontro único, deixar a outra pessoa saber com antecedência o que você gosta e o que pode concordar em conjunto melhorará muito a experiência para ambos. Ao questionar, explorar e crescer sexualmente, você descobrirá que isso pode ser uma ferramenta incrível para aprofundar sua compreensão de si mesmo.

A melhor maneira de obter prazer e alegria é discuti-los aberta e diretamente.​

Alguns exemplos estão abaixo. ​

·          Fico excitado com: conversa, beijo, olhar fixo, elogios/validação, sexting, conversa suja, romance, etc 

·          Meus lugares favoritos para ser tocado são....

·          Minhas zonas mais eróticas são... e gosto de ser tocada levemente/forte/arranhar/beliscar/fazer cócegas

·          Gosto de receber/permitir....

·          Eu gosto de atuar/dar....

·          Eu gosto de atividade sexual kinky/baunilha

 


A:  Evitar (Avoids)

Minhas aversões, meus limites e meus gatilhos

 

Os limites são essenciais para relacionamentos saudáveis. Ser capaz de expressar seus desejos e seus limites cria relacionamentos consensuais que são significativos e prazerosos. 

O que seu parceiro deve evitar dizer/tocar/fazer (ou evitar pedir que você diga/toque/faça)?

Às vezes conhecemos nossos gatilhos e outras vezes os descobrimos involuntariamente.

Algo que é um “não” neste momento pode mudar no futuro, mas estar informado ajuda a garantir que um dos parceiros não faça suposições que possam afetar negativamente a experiência de ambos. 

Alguns exemplos são: 

·          Um grande desestímulo para mim é quando alguém faz...

·          No momento não estou interessado em...

·          Tenho traumas e gatilhos que quero compartilhar com você.

·          Aconteceu uma coisa que não gostei foi:..

 

 

 R: Intenções e Expectativas de Relacionamento    

(Relationship Intentions and Expectations)

 

Isto é quem eu sou, o que o sexo significa para mim, o que espero dos parceiros sexuais 


​Intenções e expectativas podem ser muito difíceis de discutir. Às vezes nem sabemos o que queremos com aquela pessoa. Às vezes fazemos isso e contar a eles pode parecer muito vulnerável. Falar antecipadamente sobre as intenções leva a uma melhor compreensão do que é e do que não é possível. Embora não tenhamos controle sobre outras pessoas, esperar que elas mudem através do sexo muitas vezes leva ao sofrimento emocional.

 

Este pode ser o lugar que exige mais prática e abandono do medo. Não é algo sobre o qual somos ensinados a ser honestos, muito menos a discutir.​

Alguns exemplos são:

·          Minha orientação sexual é...

·          Meu gênero e pronomes são...

·          Estou procurando um encontro/relacionamento de longo prazo/namoro não monogâmico

·          Quando faço sexo, é isso que significa para mim...

·          Minhas necessidades e expectativas depois do sexo são...

 S:   Saúde Sexual e Status de IST 

(Sexual Health and STI Status)

 

Minha experiência  e minhas revelações sobre saúde sexual

Saúde Sexual e Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) são difíceis de discutir. O estigma sobre a sexualidade pode tornar difícil sentir-se confortável ao abordar questões de saúde. Embora não estejamos habituados a fazê-lo, falar abertamente sobre saúde traz muito mais prazer às nossas atividades do que fingir que estas questões não existem. 

As questões de saúde sexual a serem consideradas são: 

 

·         Problemas de função sexual, como ereções, capacidade orgástica e disforia genital. 

·         Mudanças que podem ocorrer com qualquer jogo com penetração, como infecções fúngicas e bacterianas.

·         Medicamentos ou problemas de saúde que podem afetar a sexualidade 

·         O que você precisa para se manter sexualmente saudável e bem

 

As ISTs são causadas por bactérias, parasitas e vírus que são transmitidos de pessoa para pessoa por contato sexual ou sensual. No entanto, nem todas as IST são causadas pelo sexo (algumas são causadas apenas pelo contacto pele a pele) e o sexo não causa todas as IST.

Testar e conhecer o estado do parceiro antes do contacto sexual pode reduzir o risco de contrair e espalhar infecções. 

 

Quando o consentimento não é suficiente


Consentimento, o pilar que sustenta a nossa comunidade bdsm , certo? Como visto acima, é o elemento facilitador que nos permite explorar com segurança os nossos desejos mais loucos.

O consentimento é incrível. O consentimento é sexy. E, no geral, fazemos um ótimo trabalho cultivando o consentimento em nossas comunidades locais de forma ativa.


Então porque falei que apenas o consentimento não é suficiente?


Porque algo acontece com frequência para que precisemos rever nossas práticas de consentimento. Considere o seguinte cenário:


É um ambiente de festa ou clube. Um homem veterano da cena aproxima-se de uma recém-chegada, mulher. O veterano é bem relacionado e popular na cena. Ele dá as boas-vindas à recém-chegada e inicia uma conversa amigável com ela. Em algum momento, ele pede para fazer algum tipo de ato sexual de baixo nível, como beijá-la ou apenas tocá-la sensualmente. Ela diz que sim e ele faz. As coisas esquentam e, eventualmente, os dois acabam fazendo sexo.


Parece um momento divertido, certo?


Claro. Mas então, algum tempo depois, ouvimos isto da recém-chegada:


“Na verdade, não sei por que concordei com isso. Quero dizer, ele era respeitoso, mas olhando para trás, eu realmente não queria ir até o fim e fazer sexo com ele.”


E depois de alguma discussão:


"Tudo bem. Eu não quero confrontá-lo. Ele perguntou e eu disse que sim. Cabia a mim dizer não, então só preciso deixar isso passar."


(observação rápida: estas não são citações diretas de uma única pessoa, mas um apanhado geral de vários incidentes semelhantes com várias pessoas diferentes em ambas as pontas do chicote.)

Basicamente, temos alguém que reconhece que consentiu mais ou menos em fazer algo, mas também com a ressalva de que na verdade não queria fazê-lo.


Então o que aconteceu aqui?


A resposta simples é que dizer não pode ser mais difícil do que imaginamos. A resposta complicada consiste em duas questões que se cruzam: apaziguamento e poder social.


Apaziguamento e Poder


Apaziguamento é um tipo de comportamento que agrada as pessoas, em que alguém age contra seus próprios interesses em resposta a uma situação ameaçadora. O apaziguador acredita que não pode lutar ou fugir, então obedece excessivamente ao seu ameaçador para passar o mais ileso possível. Em sua essência, o apaziguamento é um instinto de sobrevivência.  Uma forma específica de apaziguamento se chama bajulação.


Às vezes, a ameaça é um dano físico real. Outras vezes, a ameaça pode ser apenas o medo de não ser aceito. Imagine um cenário onde todos parecem estar se soltando e ficando com tesão. Uma pessoa nova neste ambiente pode achar difícil articular ou até mesmo reconhecer que não está pronta para ficar tão excitada quanto todos os outros ao seu redor. Esta é exatamente a situação que a recém-chegada no exemplo acima experimenta.


O que torna o apaziguamento complicado é que o ameaçador pode acreditar genuinamente que está sendo respeitoso. E é aí que nos deparamos com a questão que se cruza: o poder social.

Estudos descobriram que quanto mais poder social uma pessoa tem, menor é a probabilidade de ela reconhecer sinais não-verbais de desconforto em uma pessoa de posição social inferior. No nosso exemplo, o veterano tem todo o status social e todo o poder social. O recém-chegado não tem nenhum. Esta dinâmica prevê que o veterano terá menos probabilidades de reconhecer que o recém-chegado está obedecendo porque se sente socialmente ameaçado, e não porque está realmente interessado nele.


Ele também pode acreditar que só precisa ser claro e direto em seus pedidos de consentimento. Mas, ironicamente, quanto mais claro e direto ele for, mais pressão poderá inadvertidamente exercer sobre o recém-chegado para que se envolva em comportamentos que não o entusiasmam.


Devido a essas circunstâncias, o veterano pode não ter idéia de que a pessoa com quem acaba jogando nunca quis realmente jogar com ele. Afinal, não houve violação de consentimento no sentido mais estrito do termo. Ele não fez nada de errado tecnicamente.


Mas isso não significa que ele não poderia ter feito algo melhor. E acredito que esse é o trabalho que nós, como comunidade, precisamos considerar – não para corrigir um erro, mas para, melhorar situações assim e não piorar mais o que já é ruim.


Ajustes a serem feitos


Se quisermos que as pessoas se sintam confortáveis ​​explorando os seus fetiches mais loucos, temos que priorizar a segurança de todos. É por isso que existe consentimento entusiástico, FRIES (já explicado acima) e conversas detalhadas como STARS (também explicado acima). Na verdade, é por isso que temos SSC versus RACK versus PRICK e versus 4Cs e normalizamos acordos e negociações de 10 páginas que duram horas, dias ou até semanas.


O item comum em todas essas siglas é consensualidade. O consentimento não é uma palavra única, mas um processo contínuo. E se todos praticássemos sentar e ter longas conversas antes de qualquer tipo de jogo, provavelmente evitaríamos o problema do apaziguamento.

O problema é que quando passamos de negociações privadas detalhadas para ambientes de clube ou festas, as coisas começam a ficar mais frouxas, digamos assim. Lá, negociações breves e pedidos de consentimento de uma frase tornam-se a norma, a negociação express. E é durante essas interações que corremos o maior risco de o apaziguamento ser confundido com consentimento.


Ainda assim, não é tão difícil evitar esse problema. Tudo o que precisamos fazer é fazer pequenos ajustes em nossas solicitações de consentimento. Tornamos o mais fácil possível para a outra pessoa dizer não. Nós nos esforçamos para tornar o “não” tão fácil de dizer que podemos contar com que qualquer “sim” seja entusiástico.


Vamos começar com as solicitações de consentimento mais básicas:


“Posso fazer XXX?”


Este é um pedido claro, mas para alguém preparado para apaziguar, pode desencadear um sim por padrão. Então, adicionamos uma garantia simples:


“Posso fazer XXX? É perfeitamente normal você dizer não."


Agora, estamos tornando um pouco mais fácil dizer não. E podemos ir ainda mais longe. Em vez de pedir para realizar um ato específico, podemos perguntar sobre o seu nível de conforto com esse ato:


“Eu gostaria de fazer XXX com você. Você se sente confortável fazendo isso comigo?"


Ao fazer uma pergunta que não pode ser respondida com um simples sim ou não, evitamos acionar um sim padrão. Observe também que perguntamos “ Quão confortável” e não “ Você está confortável”, porque “você está” nos levaria de volta a uma simples pergunta de sim ou não. Em vez disso, permitimos que a outra pessoa tenha um momento extra para refletir sobre seus próprios desejos e dar uma resposta mais honesta.


Se quisermos criar espaço para uma conversa mais profunda, podemos tentar estes:


“Estou interessado em jogar com você. Se você também estiver interessado em jogar comigo, estaria aberto para compartilhar coisas específicas que gostaria de fazer?"


“Estou interessado em fazer XXX com você. Mas o mais importante é que estou curioso para saber o que você pode querer fazer comigo?"


Se você estiver bem versado em consentimento, notará que isso está começando a soar como as conversas de consentimento que mencionei acima. A segunda pergunta convida até a outra pessoa a nos pedir consentimento. Quero dizer, não seria incrível explorar o que alguém quer fazer conosco, em vez de apenas o que queremos fazer com ele(a)?


Quanto ao tema de convidar a outra pessoa a buscar consentimento, podemos até tentar o seguinte:


“Eu adoraria fazer XXX com você, mas não quero pressioná-lo(a). Você pode parar um pouco para pensar sobre isso e depois vir me encontrar se quiser jogar?"


Agora estamos colocando toda a responsabilidade de volta nas mãos deles. Se eles responderem imediatamente que estão prontos, ou se vierem nos encontrar mais tarde, saberemos que eles realmente querem jogar conosco.


(Nota sobre a nuance: a mudança de “interessado em” para “adoraria fazer” é intencional aqui. Anteriormente usei o menos enfático “interessado em”, porque “adoraria fazer” cria mais pressão para apaziguar. Mas como pretendemos afaste-se agora, a outra pessoa pode acabar pensando que não estamos interessados ​​e apenas sendo educados, então não há problema em ser mais enfático. Em última análise, trata-se de encontrar o equilíbrio certo entre comunicar interesse e não forçar uma situação.)


Agora, entendo que algumas delas podem parecer formas elaboradas de buscar consentimento. Mas esse é o ponto aqui – procurar o consentimento de uma forma mais ponderada, para que possamos evitar o apaziguamento.


E para ser claro, não estou dizendo que precisamos fazer esses ajustes em todos os casos. Às vezes é óbvio que temos consentimento entusiástico. Às vezes podemos dizer que eles estão absolutamente prontos para se excitar conosco. Eu diria para apenas observar as expressões faciais e a linguagem corporal da outra pessoa (tenha semancol como diz o velho ditado), mas então me lembro desta citação:


“Os membros dos grupos sociais dominantes podem não reconhecer o apaziguamento dos outros pelo que ele é (uma tentativa de neutralizar a agressão antecipada) e, em vez disso, confundi-lo com um consentimento sincero e não forçado.” ( Rae e Nkem, 2021 )


Quanto mais próximo e por mais tempo estivermos do topo da hierarquia da comunidade, mais importante será para nós mantermos esta citação fechada. Porque quanto mais popularidade e reputação tivermos, maior será a probabilidade de alguém com menos poder social nos apaziguar e mais difícil será para nós ler o seu espaço, mas poderemos precisar confiar nos simples ajustes de palavras preventivas que eu ofereci acima.


Refutações e debate


No entanto, é legitimamente discutível quanta responsabilidade nós, como comunidade bdsm, devemos ter em tudo isto. Poderíamos argumentar que não é função de quem solicita o consentimento questionar o sim de outra pessoa. Em vez disso, deveríamos encorajar uma comunicação clara e ensinar as pessoas a falarem por si mesmas. Menos do que isso, estamos apenas mimando.


Minha resposta: por que não fazer as duas coisas? Por que não encorajar as pessoas a cuidarem de si mesmas, ao mesmo tempo que reconhecemos que isso pode ser um desafio?

Sim, acredito que deveríamos encorajar as pessoas a verbalizarem os seus sim e não da forma mais clara possível.


Sim, também acredito que devemos acomodar aqueles que estão tentando, mas ainda não chegaram lá.


Há uma razão pela qual classifiquei meu exemplo de interação e não discuti o que poderia acontecer se uma veterana mulher abordasse um recém-chegado do sexo masculino. Embora o recém-chegado do sexo masculino possa experimentar o mesmo diferencial de poder que a recém-chegada do sexo feminino, os homens são simplesmente menos propensos a apaziguar. Muitas mulheres foram socialmente condicionadas durante toda a vida a sorrir e acenar com a cabeça, e vários estudos encontraram diferenças significativas na agradabilidade entre homens e mulheres. Quando uma mulher aparece pela primeira vez em uma festa e um homem respeitado expressa seu interesse por ela, ela pode sentir um nível de pressão social que a maioria dos homens nunca experimentará.


Não seria bom se o homem que se aproxima estivesse pelo menos ciente disso, para poder ajustar seu próprio comportamento? Eu gostaria de acreditar que os homens da nossa cena bdsm gostariam de saber. Certo, pessoal?


No outro extremo, também poderíamos reconsiderar como ensinamos não apenas o pedido de consentimento, mas também o consentimento dado. A maioria das orientações/círculos de abertura de segurança (ou pelo menos aqueles dos quais participamos) enfatiza o respeito pelo não de outra pessoa. Mas raramente reconhecem o quão difícil pode ser dizer não, e muito menos discutir como superar estes desafios. Essa linha específica de trabalho parece ser relegada às coisas que você processa com um terapeuta.


Então, por que não incorporar um pouco disso em nossa educação sobre consentimento? Por que não desvendar algumas das questões sociais subjacentes que podem inibir o conforto de uma pessoa em oferecer consentimento? Por que não reconhecer o impacto do apaziguamento e ajudar as pessoas a aprenderem a falar a sua verdade?


Seria tão difícil incorporar isso em nossa educação sobre consentimento, ou pelo menos em nossas palestras sobre segurança em workshops específicos? Eu certamente espero que não.


Perguntas a considerar


Então, o que aconteceu com essas mulheres que deram consentimento (de certa forma), mas acabaram fazendo mais do que se sentiam confortáveis?


Dos incidentes que tive conhecimento, alguns continuaram participando de eventos, aprenderam a cuidar de si mesmos e se tornaram membros regulares da cena. Outros não foram vistos novamente. Tenho quase certeza de que houve mais deste segundo grupo que ninguém sabe.

E isso é absolutamente uma perda para a sociedade BDSM. É por isso que precisamos nos perguntar o seguinte:


Preferiríamos ser conhecidos como uma cena pesada como uma selva, onde esperamos que todos se defendam como bichos, porque ninguém mais irá em defesa de quem precisa?


Ou preferiríamos ser conhecidos como uma cena compassiva, onde reconhecemos as dificuldades que as pessoas podem enfrentar quando se trata de expressar os seus desejos e limites, e ficamos felizes em tomar algumas medidas adicionais para acomodá-los?


Isso não nos torna muito mais inclusivos? Você não preferiria fazer parte da segunda cena do que da primeira?


Então, se você se encontra em uma posição de liderança em sua respectiva comunidade – ou mesmo se você é alguém na cena bdsm, eu o encorajo a considerar fazer apenas algumas pequenas modificações em seus pedidos de consentimento. Este é apenas um pequeno passo que podemos dar para receber novos membros e criar um espaço confortável o suficiente para que eles prosperem.

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