Olá, eu sou a Maeve. Switcher com a porção bottom bastante criteriosa. Gosto de Dominantes que sejam tão bons ou melhores que eu. Considere-me pretensiosa, não me importo. Eu escolho cuidadosamente o homem para o qual entrego minha submissão, apesar de insurgente. Aliás, é sobre isto que eu queria escrever hoje. Sobre insurgência!
Uma breve apresentação
Sou mulher de opiniões claras, posicionamento objetivo, argumentação contundente. Com uma vida profissional estável e bem estruturada. Assumo posições de liderança sem nenhum constrangimento ou falsa modéstia. Porém, inclusive na vida baunilha, tenho o hábito de testar a capacidade de quem está acima de mim e de certificar que a pessoa que me rege está apta à condução. Uma vez estabelecida confiança, reconheço a potência da autoridade e sigo obediente, leal.
Mesmo tendo faces distintas, baunilha e kinkster, sou pespontada por um grande fio de coerência que une quem sou nos dois hemisférios do meu universo. Portanto, assim como no cotidiano, como bottom, não perco os traços de personalidade que são tão evidentes como a agradabilidade e conscienciosidade, vestidos em uma roupinha um tanto quanto ácida.
Confesso a vocês que jogar como bottom não é minha zona de conforto dentro da “Switcherlandya”. Ocorre raramente, é extremamente desafiador. Nos anos iniciais de minhas experiências, inclusive, sentia que ser submissa não era algo que me agradasse, era como se eu fosse acompanhada por uma constante indigestão. Refleti por diversos momentos se ali era meu lugar. Neste processo comecei a analisar quem eu era, onde e como eu sentia prazer na servidão.
Não vejo possibilidade de alguém tornar-se praticante no BDSM sem estes pequenos desertos, onde podemos imergir em nós mesmos, indivíduos que necessitam de autoconhecimento para emergir com as potencialidades de se construir praticante são e saudável. É o caminho que nos levará à consensualidade.
Existe uma bottom feliz que habita em mim. Uma bottom que acolheu seus contornos, que é dona de si e só assim pode ofertar esta plenitude de posse a um Top. Com efeito, também sei o que não sou e do que me distancio. Não sou insolente, não sou afrontosa. Sou educada, perspicaz, astuta. Sou mulher madura. Intensa, porém ponderada – embora soe paradoxal.
Para o jogo, aprendi o que me atrai e o que se encaixa em dinâmicas que me proporcionam prazer. Só posso ofertar prazer se ele perpassar a mim, não é mesmo?
Preciso reconhecer a estabilidade e a força da conexão com um Dominante para que eu possa ser Dele. É o que faz sentido para mim, é com este par que eu gosto de jogar. Com o que se propõe a domar. A disciplinar. Contudo, sem perder o frescor e vivacidade. A insurgente que habitam em mim não se curva para qualquer um, pois, sabe identificar aquele que é bom o suficiente para fazer meus joelhos se dobrarem.
Sinto prazer em estar segura em regras coesas, claras – pactuadas na horizontalidade, sem ferir minha consensualidade. A superação de desafios, a atenção durante o processo, à correção quando necessária. Esta doma que exige vigor e leveza traz a mim sensações únicas, quando em mãos hábeis, me causa desejo em estar sob o comando.
Bottom Insurgente
A Insurgência é termo que tipifica manifestações gerais, ou como costumamos dizer, um termo “guarda-chuva” que abriga em si três perfis insurgentes que, embora possuam algumas semelhanças comportamentais diferem quanto ao foco atencional, ou seja, o que cada perfil insurgente busca de seu Top para que juntos desfrutem de um consensual prazer!
Na comunidade muito se faz da insurgência um estereótipo caricaturizado de moleca mimada, birrenta, mal educada com todos que socialmente convivem, trazendo desordem e desagrados. Justamente para desfazer este engodo trago a vocês algumas considerações antes de alinharmos conceitualmente a insurgência, Brat, SAM e Break-me.
Há muita riqueza de detalhes nos bottons que, verdadeiramente, evocam sua persona insurgente para o jogo com seu Top. Geralmente, insurgentes jogam com Top Tamer ou Sádico, por exemplo, pois são Dominantes que gostam de colocar o bottom em seu lugar por meio da disciplina, proporcionando sofrimento físico ou emocional, dentro do negociado.
O insurgente, dentro da dinâmica com seu Top, age não para deixá-lo bravo, mas para convidá-lo a envolver-se em um atividade que ambos gostam. É um apertar de botão para que seu Top saiba que é hora da diversão, de servir ao seu Dominante colocando-se em submissão para que o seu Senhos, com a habilidade de disciplinar, resplandeça belo e gigante.
Um verdadeiro insurgente, por respeito e submissão ao seu Dominante, sabe quando e como pressioná-lo. Conhece e respeita os limites do seu Dominante, da Casa a que serve. É imprescindível maturidade para este jogo, afinal, deve-se reconhecer a hora de parar, pois a verdadeira alegria não está em desobedecer ou decepcionar o Top. O desejo subjacente ao insurgente, assim como do submisso, é agradar àquele a quem desejou pertencer (seja em cena, em sessão ou em relacionamento).
É uma dança arguciosa, sagaz. Aponto, inclusive, que nesta dinâmica, pode ser observada uma intensa acuidade emocional, ao considerar que as brincadeiras devem estar sempre de acordo com a consensualidade, com a sanidade, com a segurança de ambos os envolvidos (qualquer semelhança com o SSC não é mera coincidência).
Algo muito importante, tanto para bottons como para Tops, que jogam dentro desta dinâmica é a compreensão dos três perfis que existem. Um Brat espera atingir algo que difere do desejo do SAM e, que por sua vez, difere, ainda, do desejo do Break-me para a obtenção do prazer.
Vamos conhecer um pouco de cada perfil?
BRAT
Foco do Brat: a atenção do Tamer, por meio de disciplina.
O bottom insurgente com perfil BRAT não sente prazer em se submeter diretamente ao Top. Gosta de receber atenção de seu Top por meio de ações de disciplina física ou psicológica.
As brincadeiras, ou “playfulbrat” são feitas dentro do que foi negociado, dentro dos limites da troca de poder de forma a não prejudicar física ou moralmente o Top. No playfulbrat, o brat geralmente apronta de maneira brincalhona, e não busca levar a situação a níveis extremos, quer apenas chamar a atenção, se divertir e vez por outra, ser colocado em seu lugar. Mas uma vez que tenha reconhecido no seu Dominante a figura de autoridade que precisa, não se insurgirá por rebeldia gratuita, não terá manifestações de birra ou pentelhisses imaturas.
Falta de educação e grosseria não deveriam ser justificadas como “bratisses”. Não há nada mais impertinente do que pessoas birrentas e imaturas que se valem da insurgência para suas mazelas.
SAM
Foco do SAM: Punições divertidas, com uma pitadinha de sadomasoquismo.
O bottom insurgente com perfil conhecido como o “masoquista espertinho”, o Smart-AssMasochist (SAM) é aquele que faz de tudo para ser punido de maneira física ou emocional. Geralmente o SAM não deseja desapontar seu Top, portanto as punições podem fazer parte do Funishment.
Punishment: Punição quando o bottom quebra acordos, trazendo a realidade de que o Dominante precisa corrigir determinado comportamento. As punições podem ser físicas ou não físicas. A punição levará o bottom tanto a emoções negativas quanto a resultados positivos. É fundamental que o Dominante tenha sabedoria na análise didática de sua correção e nos cuidados posteriores com o bottom. Afinal, que bottom fica feliz em desapontar, desrespeitar ou desonrar a Casa que serve? E a diversão, onde fica?
Funishment: É a dramatização de uma punição, não uma punição real, o que também significa que deveria ser uma dramatização de um mau comportamento, e é aí que entra a sutileza da “brincadeira”. Um bottom com algum nível de masoquismo, que goste não necessariamente apenas de dor física, mas também de um nível de degradação e humilhação e seu Top (Tamer ou Sádico, por exemplo), podem encontrar diversão em um roleplay que seja agradável para ambos, o que, novamente, envolve a negociação. Como isto agrega na relação?
O funishment pode ser usado para criar tensão sexual entre Top e SAM, levando-os ao prazer, evitando que as quebras de regras passem do ponto com seu Dominante, caracterizando desrespeito ao acordado entre os jogadores.
Break-me
Foco do Break-me: Ser subjulgado pelo Top.
O bottom insurgente com perfil BREAK-ME sente prazer em serem dominados por força. Normalmente é mais uma questão física. Eles resistem a dominação, precisam ser superados. Não sentem prazer em irritar ou desafiar o Top, eles sentem prazer em ter sua vontade dobrada a força.
Este perfil é fortemente atraído pela voz de Doma, pela possibilidade de ser vencido e, com a doçura de insurgente que testou a soberania de seu Dominante, dobra-se à reverência de respeito e admiração.
Nota Final: Insurgência e Consentimento
Ser insurgente não deve ser motivo para que bottom perca a mão na hora de considerar as provocações ao seu Top e à Casa que decidiu servir. Torna-se tóxico e abusivo quando um bottom insurgente recorre a ofensas físicas ou morais para obtenção do foco atencional que almeja.
Um bottom insurgente não funcionará como um bottom submisso. São naturezas diferentes, são buscas diferentes para a obtenção do prazer. Quando um Top não considera ou aceita tal fato e tenta fazer da quebra deste bottom um desafio para provar sua pseudo potência está, na verdade, provando sua falta de profundidade e cometendo uma atitude desrespeitosa, abusiva.
Portanto, sugiro que para mitigar os riscos de desentendimentos, equívocos e contratempos na dinâmica, os pares atentem-se ao período de negociação. Afinal esta é uma parte vital para todos os jogos saudáveis, seja para sessões avulsas, play partners ou D/s.
Com carinho,
Maevee {Serpents}
Eu não conseguia diferenciar por mais que eu lê-se SAM e Break- me! Agora eu entendi direitinho!