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Shadow Play no BDSM


Shadow Play no BDSM / ToyMakerBlog

O psicólogo Carl Jung sugeriu que todos nós temos uma parte da nossa personalidade que está nas sombras. É a parte de nós mesmos que negamos que esteja presente em nós mesmos, mas que muitas vezes podemos identificar a centenas de quilômetros de distância em outra pessoa. Você já reclamou de uma característica específica que incomoda, a si mesmo nos outros, apenas para ver o outro se virar e acusá-lo da mesma coisa (enquanto você nega veementemente)? O que eles estão apontando é uma parte da sua sombra.


Desejos e fantasias sexuais excêntricos, ou menos socialmente aceitáveis (leia aí BDSM, Fetiches, Fantasias sexuais diferentes, swigue, etc), são muitas vezes lançados em nossas sombras. Raramente queremos reconhecer na nossa vida cotidiana o quão “excitados” realmente somos, quão “distorcidos e bizarros” são as nossas vontades e fantasias, o quanto queremos sentir-nos “sexualmente vulneráveis” ou “expostos” ou “exibidos”. E quanto mais tentamos negar que esta energia não faz parte de nós, mais ela nos domina, influenciando as nossas escolhas e decisões para melhor ou para pior, sem que tenhamos consciência da extensão do seu impacto real.


As primeiras culturas e sociedades xamânicas tinham rituais e cerimônias pelas quais eles acessavam as partes "sombra" de suas personalidades, pois acreditavam que, ao enfrentá-las, não estariam mais sob o efeito do poder da sombra sobre suas vidas. O mesmo ocorre hoje na psicoterapia moderna, onde somos encorajados a aprofundar e expor as partes de nós mesmos que nos incomodam, com a intenção de crescer e, finalmente, nos tornarmos “pessoas melhores”.


Um equívoco comum que as pessoas têm quando apresentadas a essas ideias é que abordar a “sombra” faz com que ela desapareça de uma vez por todas. Isso está incorreto. O que estamos fazendo é trazer o “inaceitável” dos fundos obscuros e inconscientes de nossa psique para o foco brilhante de nossa percepção consciente. Não podemos controlar o que não temos consciência de que existe, por isso, ao descobrir o que está na nossa sombra, estamos a tentar alcançar um certo grau de domínio. A sombra não é mais um motorista irritante no banco de trás, mas um interessante companheiro de viagem sentado ao seu lado no banco da frente. E então VOCÊ decide que tipo de relacionamento deseja ter com isso.



 

Psicologia no BDSM


Você está se perguntando sobre Psicologia no BDSM agora depois de saber da existência de Shadow Play. Aposto que na hora em que leu sobre o termo a primeira vez já imaginou: mas que pratica bdsm é essa que joga com sombras? Mas agora a pergunta deve ter mudado para: O que isso tem a ver com o meu estilo BDSM ou a minha D/s. Bem vou te dizer Shadow Play tem tudo a ver com a sua prática bdsm, sua vida kinky e seus relacionamentos.


Antes de prosseguir vamos deixar uma coisa bem clara aqui: Praticar BDSM não é coisa de gente com Problemas de Saúde Mental, não somos doidos e não devemos ser tratados como tal.

A sociedade civil nos educou a acreditar que qualquer coisa que não seja “baunilha” (ou normal como algumas pessoas dizem) é sinônimo de distúrbio psicológico. É claro que existem pessoas com alguns distúrbios psicológicos na sociedade (inclusive dentro do BDSM) não podemos negar isso, porém não é a maioria e nem por isso está correto generalizar que todo praticante de BDSM tem um problemas mentais ligados à prática de fetiches.  


Algumas pessoas pressupõe que um Homem Dominante tem algum traço de psicopatia egoísta e abusiva pelo fato de ter prazer em dominar e causar dor nos outros ou que uma mulher masoquista tenha problemas de co-dependência extremos por ter prazer em sentir dor. Nada mais errado do que fazer esse tipo de comparativo, pois cada caso é um caso e nenhum “diagnóstico” desses deve ser dado por não profissionais, sem estarem dentro de um ambiente controlado de estudo.


Por causa destes “achismos”, muitas pessoas descartam relacionamentos Dom/sub como sendo reais e sérios, tratando como algo sem importância real. Estas pessoas fazem pré-julgamentos baseados em seus pré-conceitos, e convenhamos o meio BDSM / Fetichista Brasileiro está repleto de pré-conceitos de base baunilha.



 

Os relacionamentos D/s são saudáveis?


Sim, com base em pesquisas feitas em psicologia analítica. Todo mundo tem um lado de si mesmo que está isolado de sua personalidade consciente. Quando esse lado reprimido de uma pessoa não tem como se expressar, ele aparece na forma de relacionamentos disfuncionais, problemas de saúde mental/física, etc.

Embora o BDSM não seja para todos, pode ser considerado saudável para quem o consente.



 

Como se trabalha com o “Shadow Play”?


Na psicologia junguiana, a expressão saudável do sadomasoquismo é honrar a sua sombra interior.

Todo mundo tem um aspecto reprimido de si mesmo que não pode ser nutrido intelectualmente. Muito disso é repressão sexual e sensual que pode ser ajudada através da prática.


Está comprovado que a dor atinge o inconsciente de uma pessoa para ajudá-la a atingir estados alterados de conciência. Isto é semelhante ao motivo pelo qual alguns religiosos se açoitam para auto infligir dor e humildade.


Um Sádico é alguém que sente prazer em infligir dor. Para muitas pessoas, o sadismo é um “gosto adquirido”. O que significa que a maioria das pessoas que praticam o sadismo na comunidade BDSM  não são malucas como a maioria das pessoas pode imaginar.


Um Masoquista é alguém que sente prazer em receber dor e gostam da onda de endorfinas que sentem quando seus corpos são estimulados.


Praticar o sado masoquismo com “Shadow Play”, é uma forma de expressar tensões inconscientes de forma consciente. Em vez de ser expresso de maneiras inconscientes e disfuncionais. Isso é mais notável em pessoas que são muito passivas ou muito beligerantes e não têm consciência disso.


Aproveitando sua agressividade


Dentro de todo masoquista existe um sádico. E vice versa. Na vida pessoal a maioria das pessoas reprime a agressividade por tratá-la como algo errado (e pode ser se não for controlada) e não é incomum ver pessoas estressadas com a agressividade a flor da pele sem poder dar vazão à ela. Por esse motivo muitas pessoas recorrem à praticas esportivas de artes marciais ou academias de alto impacto como Cross Fit, para deixar essa agressividade natural fluir.


O mesmo ocorre em uma sessão de BDSM, nós liberamos concientemente essa agressividade de forma sensual, sexual e consensual, dentro das práticas, fetiches e jogos de poder. E para isso necessitamos instrução, técnicas e comedimento para não extrapolar o uso de nossa agressividade concentrada.   


Desenvolver mais amor e respeito pelo sexo oposto


Todo mundo tem uma imagem do sexo oposto gravada profundamente em sua psique.

Parte da vida, e do amadurecimento, é desenvolver essa imagem até compreendê-la completamente e perceber o quanto dela projetamos constantemente.


Como homem, posso dizer que as mulheres têm sido realmente vistas como “inferiores” na nossa sociedade. Gerações antes de mim, inclusive eu, foram criadas em um sistema sexista. À medida que as gerações futuras despertarem, este sexismo continuará a desaparecer.


Todos nós temos um lado feminino e um lado masculino em nossa psiquê. Compreender esses lados, aceita-los e saber respeitar são passos importantes para o auto desenvolvimento saído.


Quando escuto aquelas piadinhas sexistas tipo: meu lado feminino é lésbica, já imagino quanta ajuda essa pessoa precisa para se desenvolver e parar de negar a si mesmo, tentando agradar à sociedade. No BDSM Brasileiro vemos muito esse tipo de atitude infantil, muitas vezes vindo de figuras dominantes masculinas. Grande alerta para um redflag.


Nós, como sociedade, aprendemos a projetar imagens ideais de “homem” e “mulher”, juntamente com as expectativas pressupostas, nas pessoas com base no sexo “atribuído”. Independentemente disso, o ideal é que você se conheça profundamente e consiga abarcar todos os seus lados. Isso te ajudará a se desenvolver não somente como um praticante de BDSM melhor, mas também como pessoa.


À medida que essa imagem amadurece em sua psique, você também se torna mais completo. Porque você está retirando suas projeções e você está permitindo que o outro sexo seja quem realmente é como indivíduo.


Entrando em contato com seu corpo


A dor na pratica BDSM é o que nos auxilia a ter contato com nosso corpo físico, ao contrário do sexo, onde você pode deixar sua mente vagar para outro lugar, ser atingido em uma cena não é tão fácil de ignorar. A onda de endorfina, o resfriamento e até mesmo os efeitos posteriores podem ajudar uma pessoa a voltar a ter contato com seu corpo. No caso de Dominantes, geralmente não recebem a pratica, porém estamos em contato direto com quem recebe, e sim sofremos também. A fadiga muscular ao usar equipamentos por exemplo faz algo similar em nossos corpos.



 

Olhando para a sua Sombra


Quando se fala de “Shadow Play” não podemos deixar de falar sobre enfrentar e observar a sua própria sombra, ou seja o seu lado ruim, aquilo que você não tem orgulho de deixar às claras no mundo. Você sabe que esse lado ruim está lá, mesmo que negue com todas as forças, você sabe e muitas vezes sente medo (apesar de não admitir) que algo desencadeie essa sombra e ela tome controle de você por alguns instantes ou mais.


Quando à sombra assume o controle, é quase como uma amnésia seletiva, onde você simplesmente esquece o que fez, e isso pode ser muito perigoso se não for feito de forma consciente. Quando você começa a explorar esse seu lado, precisa ter certeza de que os níveis de confiança própria são iguais à do seu parceiro, para juntos serem capazes de enfrentar esses “Demônios”, e os mesmos não assombrá-los. Chegar à esse nível de confiança requer uma relação D/s saudável, verdadeira e consensual, porém enfrentar as sombras cria um vínculo muito mais forte.


Em todo o BDSM existe perigo, porém um dos maiores perigos do BDSM é o que pode acontecer dentro da sua mente. As feridas físicas cicatrizam, mas as da mente demoram muito mais e necessitam um tratamento especial. Muitos de nós passamos por traumas em nossas vidas que talvez fosse melhor deixar intocados, mas reconhecer esses traumas, revelar esses medos e vencê-los é exatamente do que se trata o Shadow Play dentro da prática BDSM.


Mergulhando nas Sombras 


Identifique a área que deseja explorar, se puder. Infelizmente, muitas vezes a submissa não sabe que existe um “gatilho” traumático. A melhor coisa que você pode fazer por si mesmo é explorar seu passado (profissionalmente, se necessário) e depois comunicar tudo o que você é, para que seu parceiro Dominante ou submisso esteja armado com o máximo de conhecimento possível. 


Se você já está ciente de um medo intenso em uma área específica, dê os primeiros passos. Medo de facas? Comece com as de plástico compradas em loja, passando pelas facas de manteiga e você chegará às espadas longas no seu próprio tempo. Nunca há necessidade de pressa ou pressão em áreas para as quais você não está preparado. Um bom Dominante vai querer levá-lo bem devagar nessas áreas, no seu ritmo, para que você permaneça saudável. Lembre-se de que você 'confia' no seu Dominante e ele só quer ajudá-lo. Lembre-se também que uma submissa séria pode ajudar seu dominante em seu trauma, nunca ache que uma sub não poderá te ajudar só porque é sub, antes de mais nada ela é sua companheira.


 

Dicas para praticar Shadow Play


Como já dito acima, “Shadow Play” é jogar com seu lado sombra, que pode ser conhecido também como seus limites. Uma das grandes forças opostas ao ego faz parte da teoria psicológica desde o seu início. “Na psicologia junguiana, integrar a 'sombra' pode nos aproximar da percepção de uma sensação de totalidade”. Explorar a nossa 'sombra sexual' oferece enormes oportunidades de crescimento e desenvolvimento.


A chave para jogar com a “sombra” é aprender como interagir com ela de uma forma segura que todos os envolvidos possam desfrutar.


Descubra quais são as 'vantagens' para você (e seus parceiros)


A 'sombra' é o seu lado que normalmente parece impossível de compartilhar com outras pessoas. São os pensamentos sombrios, as imagens intensas, as coisas 'dignas' com as quais você fantasia e (possivelmente) pelas quais se sente culpado mais tarde. BDSM, dramatização, consolos alienígenas, massagem tântrica,sexo a três – tudo isso faz parte do nosso “lado sombrio”. Mas não se limita. Como o sexo é culturalmente considerado “negativo” e algo sobre o qual não deveríamos falar, ele é relegado à sombra. Desejo, luxúria, medo, vergonha – todos eles são o lado negro.


A 'sombra' raramente é ruim ou prejudicial quando usada com responsabilidade. Muitos dos nossos medos mais profundos, muitas vezes baseados num contexto juvenil de desinformação e vergonha, podem acender um desejo erótico profundo e intenso. É possível pegar algo que antes fazia você se sentir envergonhado ou pegar algo obscuro que lhe dá uma centelha erótica (como palmadas, cuspidas, etc.) e transformá-lo em algo muito poderoso e útil para sua sexualidade e bem-estar geral.


Seu 'lado sombrio' é basicamente tudo que te excita. Podemos ver o 'jogo BDSM' como um amplo espectro, assim como o número de distorções que existem hoje. É um termo genérico, definido em última análise pelos seus praticantes. Isto significa que o que é uma “vantagem” para uma pessoa não é uma “vantagem” para outra. É tudo uma questão de interpretação e sentimentos pessoais.


O primeiro passo é considerar o que essas “sombras” podem significar para você, investigar nossas fantasias e considerar o que queremos.


Aprenda sobre si mesmo


Existem muitos lugares positivos para o sexo onde você pode procurar on-line para ajudá-lo a se aprofundar em sua sexualidade. Ser bom no sexo não é algo que sabemos fazer inerentemente. É um comportamento aprendido. “As habilidades muitas vezes podem encurtar nossa jornada entre o sexo ruim e o ótimo”. Claro, a química sexual desempenha um papel vital na atração, mas depender dela como sua única habilidade não será divertido para ninguém.


Reserve um tempo para aprender – com todas as formas de sexo. Estamos coletivamente em busca de sermos 'bons amantes'. E quando se trata de “limites” – coisas que não fazem parte do roteiro sexual normal – estas habilidades são ainda mais importantes.


Não tenha pressa


Alguém pode estar muito disposto a fazer palhaçadas, mas ainda pode estar um pouco nervoso ou inseguro. Talvez seja você, talvez seja seu(s) parceiro(s), ou talvez sejam ambos. “É muito razoável ficar nervoso quando nossos limites são aumentados ou até mesmo brincar com os limites de outra pessoa”. 


Por causa dessa realidade, você deve ir devagar e a sério. Não há necessidade de pressa. Brincar com BDSM pode ser tão gratificante quanto devastador. Dê a seu parceiro o respeito que ele merece e sinta seus sentimentos. 


Use uma palavra de segurança


A palavra de segurança é uma palavra não sexual projetada para interromper todas as brincadeiras sexuais. Esta palavra significa basicamente: 'Preciso fazer uma pausa', 'Estou desconfortável', 'Não gosto disso'. É uma PARADA difícil. Esta palavra é muito útil quando você se sente sobrecarregado, chateado ou ansioso durante o sexo. 


'Não ' significa não . 

Uma palavra de segurança foi criada para proteger seu conforto sexual, mas não deve soar como algo sexy. Não precisa ser bobo, mas tem que ser algo que vocês dois entendam que significa: 'Preciso fazer uma pausa'.



No final, explorar com segurança os limites dos nossos desejos sexuais pode ser muito intenso e profundamente libertador. É preciso conhecimento, consentimento, técnica e vontade de explorar. Todos podem brincar com suas 'vantagens'. Só precisamos dar permissão a nós mesmos e uns aos outros. 


Espero que isso explique um pouco sobre o Shadow Play. Se você decidir explorar seu eu interior através deste meio, por favor... certifique-se de ter um parceiro qualificado para lidar com isso e com você. Boa Jornada e entre em contato se precisar de um guia para ela.

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1 komentarz

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Jamais li algo tão completo e esclarecedor, cheguei até a ligar mais alguns pontos meus e nossa muito obrigada! - jemma sub

Polub
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