ATENÇÃO: Não sou profissional da saúde (psicólogo ou psiquiatra) e as informações aqui contidas qualquer um consegue pesquisar na internet. No entanto observo o meio BDSM a anos e os relatos aqui contidos são uma união de várias histórias similares que ouvi ao longo dos anos. Não estou me referindo a ninguém de forma específica, tanto que não existem nomes. Se a carapuça serviu sinto muito, mas deve rever suas atitudes e não me culpar.
Certo dia da sua vida, você se depara com uma serie de letras diferentes na internet: BDSM. Entra em diversos sites e descobre que é o “vulgar” sadomasoquismo, mas esses textos virtuais te contam que é como aquele filme 50 tons de cinza, uma história de amor com pitadas de um sexo selvagem e fetiche. Então você pensa, porque não experimentar? Quero viver como a heroína do filme, ser desejada e cuidada, por um homem lindo, rico e com desejos estranhos, mas sexy. Eis que começa a sua busca.
Você entra em um site atrás do outro buscando informações úteis, lê tudo que esta disponível nos principais sites e começa a ter cada vez mais desejos de ser submissa faminta por perder o controle, gozar e ser cuidada por um dominador. Você sente uma vontade ardente de ter que fazer isso como se fosse o ar que respira, mas não sabe por onde começar, e pensa: sites de namoro. Bingo achei!
Você cria vários perfis em sites e apps de namoro, coloca fotos sexies em posições que julga eróticas, algumas fotos da internet para refletir seus gostos e faz anúncios diretos buscando um dominador para te controlar totalmente e te cuidar.
O problema é que você não tem certeza do que gosta, do que não gosta , limites, importâncias e necessidades. Você está praticamente no escuro, sente-se perdida, confusa, não consegue parar de pensar em ser possuída, quer uma coleira a todo o custo (e nem pensa quanto pode custar) você simplesmente quer, precisa abrir mão do controle. Para onde devo ir ou a quem devo recorrer?
Em um dos seus anúncios de um app, recebe centenas de respostas e escolhe o cara mais bonito, ele é bonito, então deve saber o que está fazendo. Então, vocês trocam mensagens por um curto período de tempo no app, a conversa é envolvente e ele fala de temas que você leu com desenvoltura. Você confia nele e passa seu whatsapp, o papo fica mais quente e até algumas ordens são dadas (ufa finalmente você está recebendo ordens então vamos obedecer, era o que você tanto queria) e super envolvida com esse papo erótico você não vê à hora de conhecê-lo na realidade, lógico se foi esse excitação no virtual, imagina cara a cara?
Vocês combinam de se encontrar, dizem o que vestir, durante o jantar ele diz que quer ir a um motel, você não se sente confortável, mas aceita, pois quer agradar. Então, uma vez no quarto, você chupa pênis, leva umas palmadas, é fodida. Então, antes de sair, ele lhe dá uma coleira e diz que pertece a ele agora, agora você é uma posse.
Nesse ponto do relato você deve estar balançando a cabeça e falando: aconteceu exatamente isso comigo. Mas fique calma, isso já aconteceu com quase todos os submissos.
Agora vocês começam a se ver, no início há muita comunicação, mas você percebe que ele está ficando curto nas respostas. Agora, a maioria das coisas são palmadas, chupadas e relação amorosa, nada mais. Você acredita na palavra dele, ele sabe tudo. Ele a atraiu para o mundo dele, entrou em sua cabeça. Para você, ele é tudo, é Deus.
Depois, você lê mais ou alguém fala sobre eventos BDSM, festas, munchs. Você se pergunta que outros dominantes ou submissos ele conhece, todas essas perguntas. Ele lhe diz que você não precisa de nada disso, ele é tudo de que você precisa. Seu perfil virtual esta sob o controle dele, você não precisa estudar nada além do que ele te passar. Todos esses caras e mulheres que explicam sobre BDSM, falam besteiras e ensinam errado. Ele tem todas as informações de que você precisa.
O tempo que passam juntos se torna menos freqüente, suas perguntas não são mais bem-vindas, parece que sua curiosidade o incomoda e irrita. Agora você se sente perdida. Você descobre que ele tem problemas familiares, não tem estabilidade, não fala sobre os próprios problemas e a culpa de tudo que acontece é sempre dos outros, e você está em segundo plano na vida dele, mas pelo que ele falou isso é normal, escrava não tem o que querer, só deve aceitar o que o Dono manda e ficar feliz com isso. A pergunta é: você já foi a número um em algum momento?
Agora você está enlouquecendo, anseia por ver seu Mestre, precisa do toque dele. Você não tem ninguém com quem conversar, pois não conhece mais ninguém no estilo de vida BDSM. Você se sente como se estivesse trancada em um armário escuro. Então você acorda uma manhã e pensa que deve haver algo mais do que isso. Isso não pode estar certo. Não é nada do que eu li. O ruim é que você levará muito mais tempo para terminar o namoro do que levou para se conhecer, se é que você vai conseguir terminar. Pelo menos com ele você tem alguém. Pode ser abuso, mas ainda assim é alguém. Não posso ficar sozinha, ele disse que eu ficarei marcada por ser um sub sem coleira, serei mal vista. Está com medo, mas com muita dedicação você vai mudar essa situação, você pode resolver tudo.
Se isso está acontecendo com você, aconteceu ou com alguém que você conhece (até homens submissos), tenho que te contar uma triste verdade:
Você está ou estava sendo abusada sim. E não é culpa sua.
Isso acontece muitas vezes não somente no meio BDSM, como no meio Baunilha. A maioria não conhece as qualidades de um bom dominador, nem sabe as perguntas que deve fazer. Mais ainda, a submissa não consegue se mantiver firme nas questões que podem surgir.
Você está vivendo a Síndrome de Estocolmo.
A Síndrome de Estocolmo é caracterizada quando a vítima, exposta há um tempo prolongado de intimidação/agressão, começa a criar laços de amizade, simpatia e até mesmo de paixão pelo seu algoz.
Ela acontece quando a vítima, no momento traumático, em que está sofrendo violência física ou psicológica pelo agressor, acreditando que o pior vai acontecer, percebe algum gesto de atenção para com ela, pelo abusador. Esse gesto de atenção pode ser interpretado pela vítima como alguma gentileza, carinho ou empatia.
Essa síndrome é facilmente observada em casos de seqüestro, roubo, abuso infantil, estupro e violência doméstica. Nesses casos, a vítima está em uma situação de perigo iminente, sofrendo uma violência psicológica ou física, e acredita não poder escapar daquela situação.
Dessa maneira, a mente cria mecanismos para se defender da situação e essa defesa consiste em acreditar que, ainda que com as adversidades apresentadas, o malfeitor está de alguma forma tentando proporcionar-lhe algo bom. Por isso, encara algumas atitudes do agressor como benéficas, interpretando o gesto como alguma gentileza, carinho ou empatia.
Em razão da situação crítica a qual é exposta pelo agressor, pois o destino da sua vida está nas mãos dele naquele momento, a vítima passa a estabelecer uma relação de dependência com o algoz, passando a aderir psicologicamente ao agressor.
Nesse contexto, pode ser estabelecida uma relação de amor ou paixão decorrente de um processo inconsciente de autopreservação pela vítima, que acaba aderindo às características pessoais do agressor, tornando os seus atos justificáveis. Fazendo isso, a vítima, inconscientemente, acredita estar controlando a situação, tornando-se, portanto, um mecanismo de defesa.
Ao criar essa empatia com o agressor (moral, físico ou ambos), a vitima se solidariza com o abuso e além de não denunciar o abuso, chega a limites onde defende o abusador crente de que vai conseguir mudar a situação atual por si só. Sendo mais específico no meio BDSM, a submissa abusada não expõe seu agressor (não vou chamar isso de dominador porque não é), sente um medo absurdo de que o mesmo irá expor sua intimidade, fotos nuas ou seminuas sem autorização, falar de suas praticas sado masoquistas para família, amigos e trabalho, e todo o tipo de ameaça ate mesmo física, de espancamento ou morte.
Sim as vitimas ficam de mãos atadas, com um desespero crescente ao descobrirem que se envolveram com um canalha Red Flag (praticante de BDSM não confiável) e sua fantasia sexual está agora avançando contra sua vida e tornando a mesma um inferno. Sim você pode ter se envolvido com um Psicopata (primeira coisa que se pensa) mas muito provavelmente é um Sociopata.
Os psicopatas são classificados como pessoas com pouca ou nenhuma consciência, mas capazes de seguir as convenções sociais quando lhes convém. Os sociopatas têm uma capacidade limitada, embora fraca, de sentir empatia e remorso. Eles também são mais propensos a perder o controle e reagir violentamente quando confrontados com as conseqüências de suas ações.
Sociopata
Deixa claro que eles não se importam com o que os outros sentem;
Comporta-se de maneira impulsiva;
Propenso a acessos de raiva e fúria;
Reconhece o que eles estão fazendo, mas racionalize seu comportamento;
Não consegue manter uma vida profissional e familiar regular;
Pode formar ligações emocionais, mas é difícil.
Psicopata
Finge se importar;
Mostra comportamento de coração frio;
Deixa de reconhecer a angústia de outras pessoas;
Tem relacionamentos superficiais e falsos;
Mantém uma vida normal como cobertura para atividades criminosas;
Deixa de formar vínculos emocionais genuínos;
Pode amar as pessoas à sua maneira.
Willem H.J. Martens argumenta em seu infame artigo "O sofrimento oculto do psicopata" que os psicopatas às vezes sofrem de dor emocional e solidão. A maioria leva uma vida cheia de mágoas e é incapaz de confiar nas pessoas, mas, como todo ser humano no planeta, eles também querem ser amados e aceitos.
No entanto, seu próprio comportamento torna isso extremamente difícil, se não impossível, e a maioria está ciente disso. Alguns se entristecem com as ações que não conseguem controlar porque sabem que isso os isola ainda mais dos outros.
Lendo isso após ser abusada, o primeiro pensamento vai ser:
“BDSM é um ambiente tóxico cheio de psicopatas. TODOS esses dominadores são uns filhos da puta, só esperando um momento de fraqueza para abusar das pobres submissas. Odeio esses dominadores, tenho medo deles, TODOS eles não prestam.”
Mas isso não é verdade, como em todos os meios sociais no mundo, existem pessoas más e pessoas boas. O que acontece é que pessoas de má índole e com traços de psicopatia ou Sociopata, se destacam e muitas vezes buscam pessoas iniciantes (fáceis de serem usadas e abusadas) e nessas você deu “azar” de conhecer uma dessas pessoas. Seria crueldade dizer que você escolheu o abusador porque ele era mais “bonito”, ou porque os “amigos” dele falaram bem? Infelizmente a verdade é que a escolha foi sua, por ignorância e pressa, pois algo assim poderia sim acontecer em outro meio social qualquer, ninguém está livre de topar com esse tipo de gente que precisa sim de tratamento psiquiátrico.
A informação existe, você está lendo agora mesmo. Mas talvez, no momento do excitação extremo, você tenha falado: Nossa que besteira, eu sou uma mulher vivida, conheço a vida, isso NUNCA vai acontecer comigo. Infelizmente NUNCA, não é uma realidade na vida.
Para piorar a situação social do abuso, e você sentir que errou e não admitir (com vitimismo, muito comum nesses últimos tempos), você declara guerra aos Dominadores Homens, porque todos eles lembram seu abusador e por medo (que novamente você não admite), vai se vingar de todos esses canalhas que te fizeram o mal (menos o que te abusou). Sim é uma situação extremamente comum, o abusador está fora totalmente dos ataques, ele não será tocado, mas os outros que podem conhecer ou não seu abusador, esses sim vão sofrer a sua vingança. E em muitos casos você influencia outras submissas a se juntarem e lutarem contra os Dominadores Abusadores (menos os canalhas que realmente fizeram o abuso)
Vocês submissas abusadas somente esquecem de que ninguém é igual no mundo, e bons dominadores, e praticantes de BDSM existem.
Mas isso tudo acontece apenas com as submissas iniciantes? OBVIO QUE NÃO.
Situações de Abuso Moral e Físico podem acontecer com qualquer pessoa em qualquer meio social. No BDSM, dominadores homens e mulheres não são isentos de serem abusados só porque estão em uma posição de controle. Leia sobre “Topping for de Bottom” (Dominação por Baixo) ou sobre Top Drop. Dominantes são pessoas como qualquer outra e podem ser enganadas, abusadas e machucadas. Somente é mais raro de ver casos onde Dominantes são abusados por ser algo “vergonhoso” socialmente.
Quanto à uma reclamação muito comum de que Dominadores “passam pano” para outros Dominadores, vou ser bem sincero. Dominantes canalhas e de má índole, que fazem atitudes similares costumam se defender, mas não são todos. Muitos dominantes lutam contra essa atitude baixa e sem honra, no entanto geralmente dominantes corretos raramente se unem e não tem a mesma força social de narrativas dos “fake doms”. E sim esses falsos dominantes criam narrativas, para se defender e para atacar quem alerta sobre eles (ou elas).
Muitos homens submissos (heteros e homosexuais) estão na mesma situação, sendo abusados, maltratados e achando que isso é normal pelo fato de serem submissos ou escravos. Recado para vocês, isso não é normal, não se permitam estarem nessa situação, e busquem ajuda sim.
Coisas a serem observadas sobre Dominadores (masculinos e femininos). Ele(a) está no controle? Não tem problemas de raiva? Ficar com raiva sobre algo especifico pode ser algo normal, quem nunca sentiu raiva de algo? Porém ficar com raiva o tempo todo por qualquer motivo, não é algo comum. Um dominador com problemas de raiva não é um dominador, é um homem (ou mulher) que gosta de sexo violento. Um verdadeiro dominante nunca levantará a voz para você, nunca a falará mal por raiva e, o mais importante, nunca baterá em você por raiva. Ele(a) nunca deve ameaçar você.
Um dominante tem total controle de si mesmo e do ambiente ao seu redor.É calmo(a), fala de forma positiva e nunca é negativo(a). Um bom Dominante deixará de fazer o que está fazendo quando você estiver precisando. Um bom Dominante é solidário(a), atencioso(a) e amoroso(a). Um verdadeiro Dominante sempre colocará você em primeiro lugar, não importa o que aconteça, você é o centro do mundo dele(a). Um Dominante de verdade não fará com que você fracasse. Um Dominante de verdade vai abraçar e confortar você. Ele(a) ouvirá você, mesmo que você tenha que acordá-lo. Você deve sentir que pode falar com ele(a) em todos os níveis.
Sempre com abordagem clara, nossa gostei muito, importante saber identificar e o jeito que expõe o assunto é de fácil entendimento seja um novato ou alguém já do trecho. -jemma sub