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O Mito do Grande Livro de Regras BDSM



Caveira, livros, dados e rosas fundo vermelho

Posso iniciar esse texto explicando que o mito do Grande Livro de Regras do BDSM é uma grande piada e não existe tal livro. Falar do Grande Livro de regras do BDSM é uma forma de dizer que não existe uma receita específica ou um único modo de praticar BDSM.


No entanto, apesar de não existir um livro de regras para o jogo BDSM, como um guia passo a passo ou uma legislação, existe sim a TRADIÇÃO ORAL. Ela varia de culturas, países e até regiões, mas alguns elementos estão sempre presentes, as tão "mal interpretadas" Liturgias BDSM.


Já escrevi um texto aqui sobre a Liturgia BDSM e também tem video no canal do YouTube, mas vale sempre revisitar esse assunto para as pessoas novas que vão conhecendo o Blog. Infelizmente a palavra Liturgia foi muito mal empregada no BDSM Brasileiro e acabou remetendo à algo de cunho religioso, mais ou menos como se o BDSM Brasileiro fosse um tipo de culto, chato, metódico e corta tesão. Nada mais longe da realidade, vide que essa narrativa é usada por pessoas que nem sequer sabem o que é a Liturgia BDSM.


Uma palavra que melhor se encaixa hoje em dia é PROTOCOLO, como no inglês Protocols e sim, temos que falar sempre da cultura BDSM de forma internacional pois ela não é exclusividade Brasileira, e quase tudo é original da Europa e América do Norte, portanto sejamos justos.


Dentro dos Protocolos, temos os protocolos de segurança, de saúde fisica e mental, e o foco deste texto, os Protocolos Sociais ou seja, as regras sociais que existem no meio BDSM internacional. Vejam que ao mudar a palavra Liturgia para Protocolo, fica um pouco menos agressivo e facilita o entendimento. Portanto os Protocolos Sociais são a nossa Tradição Oral e logo são de certa forma o "Mito do Grande Livro do BDSM".


Realmente não temos um livro gigante escrito e guardado como uma Bíblia, Torá ou Alcorão, mas temos sim Protocolos Sociais baseados em Tradição Oral criados através de experiências, posturas e influencias do nosso meio BDSM Local.


Um grande exemplo de Protocolo Social BDSM é o uso da Coleiras. Sei que hoje em dia o uso de chockers se tornou mais uma questão de moda do que uma regra social, no entanto dentro da cultura BDSM, uma coleira ainda significa submissão. Uma coleira com o nome de alguém ainda significa que essa pessoa se submete a um dominante. O uso de uma gargantilha com uma argola, ainda remete que essa pessoa deseja ser presa a uma guia e dominada, porém isso só em um ambiente BDSM legítimo e sempre se levando em conta que não é porque está ali exposto que necessariamente significa o que você entende. Sempre pergunte antes, pode até acabar com a fantasia da situação, mas preserva a paz do ambiente.

Vamos deixar outra coisa aqui muito bem explicada. Não é porque você segue os Protocolos BDSM em um ambiente BDSM que você é melhor, maior ou se acha o melhor de todos . Ser um praticante que respeita os protocolos não te faz mais certo porque você é o "real bdsmer" isso é o pensamento mais imbecil do mundo. Da mesma forma, não é porque você NÃO curte Protocolos Sociais BDSM em seu jogo, que automaticamente quem gosta se torna uma pessoa ruim. Essa também é uma atitude extremamente infantil dentro de um jogo sexual adulto. Respeite para ser respeitado, ok?




Mulher exibindo coleira e algemas

É recorrente uma reclamação que escuto de pessoas que não seguem os Protocolos Sociais BDSM, de que o pessoal "Litúrgico" (como eu quero acabar com essa palavra) é velho, chato, corta tesão, inconvenientes e caga regras. Em boa parte tenho que concordar com isso, realmente tem gente que acha que manda no rolê e quer que todos sejam padronizados para se sentir bem, mas vou dar uma triste noticia, isso acontece com todo mundo, "Litúrgicos" velhos e "Fetichistas" moderninhos. Infelizmente a alguns anos umas figuras impolutas no meio Brasileiro inventaram essa narrativa de que os Velhos eram chatos e "Litúrgicos" e os Novos eram legais e Fetichistas, mas isso foi somente uma estratégia triste de por um publico pequeno, uns contra os outros para criar um publico consumidor para essas pessoas que nunca pensaram em uma "comunidade" e sim em aplicar a técnica do nós contra eles, bem comum no MKT e na politica, demonizando seus antagonistas.


A realidade é que estamos todos no mesmo barco só que alguns estão de um lado do barco, outros na traseira (popa), alguns na frente (proa), tem gente no Mirante e tem gente no porão, e cada um desses tem uma visão diferente do Todo. Cabe a nos lembramos que o Barco é o mesmo, apesar de só vermos uma pequena parte dele.


Voltando ao assunto dos Protocolos Sociais, outra reclamação que vejo muito com iniciantes é que a expectativa deles era encontrar ambientes (reais e virtuais) com mais seriedade, respeito e liberdade de Expressão. De certa forma ao "demonizarem" os protocolos, isso se perdeu, pois quando se tinhas essas regras sociais, eram tão comuns essas tratativas que ninguém se preocupava em falar disso ou mesmo escrever um "guia" de o que fazer ou não.


Muitas vezes vejo dominantes em redes sociais extremamente bravos, porque um iniciante espertinho foi passar cantada em sua submissa com coleira virtual, e dizem para mim: Não é obvio que ela tem dono?


Minha resposta geralmente é: Não para ele. Nada no BDSM é óbvio. O iniciante não tem obrigação de saber as regras sociais do meio, ainda mais se essas são tradição oral e nunca foram explicadas à ele. Mas um pouquinho de sensibilidade e respeito ajudaria nessas situações.


Mulher beijando salto feminino

Por outro lado já vi inúmeras vezes jovens mulheres submissas, dizendo que não vão chamar qualquer um de Senhor, só vão fazer isso para seus Donos. Mas aí entramos em um paradoxo, onde um Dominante só vai ter uma submissa que tenha uma tratativa protocolar depois que conseguir domina-la sem o uso dos protocolos sociais. Vejam que não estou exigindo que as submissas (e os submissos também) fiquem chamando todo mundo de Senhor ou Senhora, não é isso. Sei muito bem que tem pessoas (homens e mulheres) que não valem o ar que respiram, e não merecem esse tratamento, mas existem outras formas de impor um respeito da parte submissa sem deixar de ter aquela "educação protocolar bdsm ".


Uma mulher submissa pode identificar bem rapidinho quando quem a aborda está sendo um grande babaca, por exemplo os que já saem exigindo ordens depois de 5 min de papo, ou exigem fotos nuas. É simples cortar as asinhas desses aproveitadores com classe sem deixar de tratar de senhor ou senhora. Seja fina e diga um bom e sonoro NÃO SENHOR, e explique que mesmo que se torne submissa à uma pessoa dentro do jogo BDSM, não vai nunca permitir ser maltratada, abusada ou extorquida pessoalmente e fora dos ACORDOS e PROTOCOLOS acertados.


Sei que vindo de um homem dominante parece fácil falar, numa situação real é diferente, porém estamos falando de papos virtuais. Um "dom" mesmo que real e conhecido no meio, não quer dizer que ele seja RECONHECIDO pelo meio BDSM e dificilmente vai acabar com a sua imagem como muitos ameaçam quando recebem um NÃO.


Bem o que eu queria dizer nesse texto e apesar de terem muito mais exemplos que possam ser expressados aqui (mas podem postar nos comentários) , não quero deixar o texto longo. A ideia é começar a resgatar os Protocolos BDSM de uma uma forma geral e ver com quem isso ressoa. Para mim faz falta esse tipo de tratativa e também não ser visto como um chato só porque sou educado e sigo as regras.


Agradeço quem ficou até aqui e por favor expressem o que acharam do texto. Se puderem divulgar o Blog e o site ajuda muito a alcançar mais pessoas interessadas no tema, e muito obrigado.


Mestre LenHard , o ToyMaker

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