O termo “Collar Blindness”(traduzindo para português seria algo como Cegueira da Coleira ou Coleira Cega) foi criado por Pup Amp que edita o site Watts the Safeword. Pup Amp é blogueiro, trabalhador do sexo, ativista e produtor da "Watts The Safeword". Com sua experiência como educador sexual e profissional do sexo, ele, junto com convidados de todas as habilidades, origens, experiências e estilos de vida kinky, desestigmatiza tópicos sobre sexo e outras questões LGBTQ+. Ele filma, edita e gerencia os vídeos do YouTube semanalmente. (Link para a página Watts the Safeword)
Em minhas pesquisas sobre novos termos dentro do BDSM apareceu esse, o “Collar Blindness”, que achei extremamente interessante e comecei a ler. Como se trata de um termo novo, não encontrei muitas referência sobre o tema, apesar de que a atitude envolvida do “Collar Blindness” não seja nova. Neste artigo vou trazer o fruto da minha pesquisa e convido aos leitores para fazerem suas próprias observações e assim aumentar o repertório sobre esse assunto.
O que é “Collar Blindness” ou “Coleira Cega”?
A “Coleira Cega” ou “Collar Blindness” é aquela ação que alguém age cegamente em um relacionamento para obter uma coleira numa relação BDSM. Em vez de a coleira funcionar como uma representação de o relacionamento estar funcionando, a coleira se torna um objetivo para alcançar um status social que deve ser conquistado a todo o custo (e quando digo todo o custo é TODO mesmo), sem se importar com nada e nem ninguém.
É semelhante a uma pessoa baunilha que busca um relacionamento apenas para ter uma aliança de casamento e um vestido grande e brilhante, mas não está realmente concentrada em com quem vai se casar. Em ambos os casos pode ser movido pelo desejo de espetáculo para mostrar o que é capaz de obter. Sentir que é mais “Importante” do que as outras pessoas do seu circulo social somente porque ostenta uma Coleira ou Aliança de Casamento (caso baunilha). A contra parte do relacionamento pouco importa.
A Coleira
Uma coleira dentro da cultura BDSM é muito mais que um pedaço de couro ou metal envolvido no pescoço, com ou sem travas, com ou sem argolas. A coleira é um símbolo que representa a união do relacionamento BDSM, mais especificamente em uma relação D/s (Dominação / submissão) , trazendo um ar de estabilidade, confiança, entrega, segurança, companheirismo e cumplicidade. A coleira representa tudo isso e pode até mesmo ser comparada com uma aliança de compromisso (noivado ou casamento) dentro da vida Baunilha.
Se trata de um símbolo sério e com responsabilidade. Não confunda uma coleira BDSM com uma choker ou adereço fetichista, podem parecer iguais, mas seu significado é totalmente diferente. Uma coleira BDSM não precisa necessáriamente ser uma coleira que vai no pescoço, pode ser qualquer coisa, como uma pulseira, tornozeleira, e até mesmo tatuagens ou marcas a ferro (em casos mais extremos). O que a difere de qualquer outro elemento de fantasia é o seu significado para a cultura BDSM.
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Antes do aparecimento das Redes Sociais, uma coleira dentro do BDSM era a melhor forma (e ainda o é) de mostrar às pessoas que existe um compromisso com aquele casal ou grupo de pessoas (caso de Dominantes que possuem mais de um submisso). Nas redes sociais for adaptado o uso da coleira, para a “Coleira Virtual” que nada mais é do que uma forma virtual de representar a relação. Várias regras foram criadas como o uso de Chave {....} , Colchetes [....] ou Parenteses (...) para delimitar o nome do(a) Dono(a) e assim criar uma “Coleira Virtual”. Algumas pessoas inovam e colocam os apelidos dos próprio submissos ou um símbolo ou mesmo uma abreviação do apelido do(a) Dono(a).
Tudo isso com o intuito de ser uma representação virtual da coleira, porém existem pessoas que usam coleiras virtuais sem ter realmente um relacionamento, e é difícil mensurar se é real ou não no meio virtual, o que já não ocorre em reuniões presenciais.
A realidade é que a alguns anos a “Coleira Virtual” se tornou um símbolo de Status, e muitas vezes perseguido com unhas e dentes. E desta gana por ter uma coleira virtual para se considerar parte de uma comunidade algumas pessoas evoluíram (se é que podemos chamar isso de evolução) para o termo que vamos tratar agora: “Collar Blindness” ou a “Coleira Cega” (ainda estou trabalhando em um nome em português, dicas e ajuda são bem vindas)
O que causa a “Collar Blindness”ou “Coleira Cega” e quais são os tipos de pessoas que o fariam?
Isso significa que, em vez de ver a coleira como um símbolo do relacionamento, a pessoa está perseguindo uma coleira cegamente porque comprou arbitrariamente uma ideia de que ter uma coleira te dá algum tipo de status social dentro da comunidade BDSM e não teve tempo para pensar sobre o que realmente está acontecendo ou se ainda quer fazer isso.
Uma pessoa que faz isso provavelmente é alguém que faz coisas na vida porque acha que “deveria”. Alguém assim carece de autoconsciência e está fora de contato com seu eu interior – na medida em que faz o que lhe é dito ou o que acredita que se espera dele(a).
Um exemplo mais identificável seria “apaixonar-se” por um Dominante e experimentar um sentimento de pertencimento sem nem ao menos ter negociado ou falado sobre os detalhes da D/s com o Dominante. Essencialmente é uma paixão cega e incapaz de detectar os sinais de alerta ou diferenças entre os parceiros porque a adrenalina do “novo amor” está fazendo o casal querer ficar junto por tempo suficiente. criar laços e praticar sexo sem pensar (já fazendo planos de família, filhos casamento, etc – com uma semana).
Este é o tipo semelhante de lavagem cerebral que acontece quando você nasce em uma família estritamente religiosa – a pessoa usa “vendas” e não consegue ver outras maneiras de fazer as coisas. Você acredita que é “do” grupo, em vez de “parte” do grupo; você não é diferenciado, individualizado ou amadurecido. Só quando você se depara com os limites, as limitações, as resistências e as cenas dramáticas entre você e o “mundo em que está” é que você desperta para as possibilidades e aumenta a consciência.
Num contexto religioso, você quer fazer sexo e sua religião não concordar, então você acaba pecando e é obrigado a enfrentar e aceitar sua própria individualidade longe da “cultura do grupo”.
Você veria isso na “Coleira Cega” (“Collar Blindness), quando a pessoa finalmente fica desiludida e percebe: “talvez eu não queira depositar minha lealdade a essa pessoa”. O que pode levar a uma crise existencial, semelhante a uma crise de meia idade, onde a pessoa tem um rude despertar e pondera “então para que serve tudo isso?” e “tudo na vida é apenas uma distração!” ou outra a vida perdeu o sentido, e isso pode até mesmo levar a um quadro de depressão, onde muito provavelmente o Dominante será o culpado, por não ter percebido o fenômeno da “Coleira Cega” e ter deixado acontecer.
Em termos de vida normal, muitas mulheres divorciadas nunca mais querem se casar porque não gostaram de quem se tornaram no casamento. Eles se sentiam infelizes, muitas (não todas) vezes, isso porque estavam perseguindo a aliança e o casamento, sem realmente entender o que estavam fazendo ou com quem estavam se comprometendo. O medo de voltar a ser quem eram era um comportamento inconsciente, então eles geralmente não precisam se preocupar com isso - mas não há problema em se sentir assim, porque foi quando eles não sabiam quem eram, para começar. , caso contrário, eles teriam se perguntado se casar era certo para eles, em vez de assumir isso como um objetivo de vida e persegui-lo sem pensar.
Casar-se é um estilo de vida padrão e arbitrário,se trata de uma união séria que vai resignificar objetivos da vida do casal, onde muitas vezes (não sempre) a figura do homem é o provedor e a figura da mulher é organizar e manter o lar, não sendo nenhum deles mais importante do que o outro e sim uma fusão, uma união, por isso o Casamento. Os gêneros não importam, quem faz quais deveres não importa, tudo o que importa é que o que você está fazendo funcionar para você e você achar que sua vida é gratificante com seu parceiro(a). Até mesmo de um ponto de vista espiritual, o casamento é a união de duas almas, para que em alguns casos possam ser a base e originar novas almas (família, filhos). Portanto ter uma relacionamento estável, um casamento é um passo muito serio e importante na vida humana.
Essencialmente, os tipos de pessoas que cairiam em dois tipos de pensamento :
Maturidade Subdesenvolvida (Pensamento Infantilizado). Todo mundo é culpado disso em algum momento. Você é culpado se esteve profundamente envolvido em qualquer tipo de grupo que sentiu que determinou seu valor e se viu traído internamente por esse grupo. Isso também acontece com muitas pessoas que são traídas pelos primeiros amores.
Assimiladores Habituais (no português vulgar “Maria vai com as outras”). Essas pessoas são aquelas que copiam toda a retórica dos grupos de conteúdo das redes sociais que seguem ou dos grupos aos quais se associam. Essencialmente, as pessoas não são pensadores independentes.
A qualidade abrangente entre as pessoas que cairiam na “Coleira Cega”seria aquelas que acreditam que existem “deveres” na vida. Essas são as pessoas que ainda não se conhecem e precisam trabalhar o autoconhecimento.
Essa forma de pensar é muito comum entre os jovens, mas está quase sempre presente no modo de pensar da geração de seus pais. Não sei quantos anos você tem, mas sou da geração milenial (idos dos anos 80) que tem contato direto com pessoas da geração Z (pós 90), portanto minha visão já é de alguém mais maduro, onde a grande professora (a vida) já deu muitas lições, nem sempre tranquilas.
As gerações mais velhas terão uma compreensão padrão de como a vida deve ser vivida, mas a boa notícia é que existe um certo nível de confiabilidade e estabilidade nisso. Caso contrário a sociedade não teria chegado até aqui, até hoje.
Como reconhecer, parar e prevenir o “Collar Blindness”ou “Coleira Cega”
Pergunte a você mesmo as seguintes questões:
Você sabe o que é preciso para ser encoleirado(a)?
O que significa estar com uma coleira?
Você sabe o que significam realmente os detalhes e está preparado(a) para fazer isso?
O que ter uma coleira traz para você?
Você entende que, na vida, se você contribuir para algo que não te beneficia, você será explorado? Isso se chama “aceitar um mau negócio”.
Você quer continuar sendo submisso (a) preso a um relacionamento através de uma coleira?
Se você não consegue responder a todas as perguntas listadas acima, então você não tem a consciência necessária para não se arrepender de ter sido um possível erro.
Sim, entendi. Antes de você se fazer essas perguntas - se você passou por um processo de encoleiramento e não gostou, você poderia ter dito a si mesmo “Ah, eu não sabia, então não posso me arrepender”.
Não. Eu acabei de te dar essa resposta, então seja realmente honesto consigo mesmo e responda as perguntas acima, por si só, antes de assumir qualquer relacionamento sério. Porque não é só você que está se enganando ao não responder as perguntas de forma honesta, você está (mesmo que inconscientemente) enganando seu parceiro (a).
Muitas pessoas não trabalham aquilo em que depositam sua convicção e é muito importante que você saiba onde está depositando sua crença. Caso contrário, você terá uma surpresa desagradável.
Dito isso, se você está em um Relacionamento Não Funcional para você, não se preocupe, existe sempre uma solução mesmo que não seja fácil. Como eu disse acima, pessoas não trabalham com as coisas que não depositam suas crenças verdadeiramente e seu parceiro(a) não se esforça para fazer o relacionamento funcionar... tenho péssimas novidades para você.
Existe uma enorme diferença de estar “encoleirado”em um relacionamento que PODE funcionar e estar preso à um relacionamento que NÃO funciona de maneira alguma.
O relacionamento que PODE funcionar sempre será bastante fácil e fluido. No mínimo, não vai parecer que está arrancando dentes sem anestesia a cada discussão. Se você sente que o relacionamento é pesado e penoso, alguém dentro dele não tem crença no relacionamento.
Como disse no inicio do artigo, o termo “Coleira Cega” ou “Collar Blindness” é extremamente novo, apesar de a atitude relatada e envolvida nele não o ser. Caso você que leu até aqui tenha mais a acrescentar nesse tema, seria interessante escrever nos comentários e aí eu incluo no artigo principal. O importante é trazer informação de qualidade para os praticantes de BDSM e para as pessoas baunilhas que porventura venham a ler esses artigos.
Perfeito, coisas que vemos como pressão para encoleirar por motivação errada e que com esse artigo ficou de fácil entendimento e com título, adorei - jemma sub