Estudo sobre lesões e acidentes no Kink e no BDSM - Parte 1
- Mestre LenHard
- 8 de jun. de 2024
- 6 min de leitura

NOTA:
Eu tenho o costume de pesquisar informações sobre BDSM fora do Brasil a muitos anos e em uma dessas pesquisas me deparei com o estudo a seguir realizado pelo site kynk 101. Como gostei muito da pesquisa e sei que muitos praticantes brasileiros não lêem em inglês (e nem tem esse interesse) ou acham que pesquisar na “gringa” é algo elitista, resolvi transcrever o estudo e adaptar à nossa realidade algumas palavras. Sugiro a leitura do texto com cautela para que entendam alguns fatos realmente importantes do nosso estilo de vida.
O estudo em questão foi desenvolvido nos países do Norte, e pode até ser que algumas coisas não batam com a nossa realidade brasileira, embora eu ache que é muito similar. Espero que gostem do estudo e peço que deixem seus comentários ao final do texto.
Aprender com os outros é uma parte fundamental da exploração Kinky e BDSM. Uma grande parte dos praticantes depende de seus colegas para aprender.
Ao procurar compreender a probabilidade de acidentes e lesões sofridas no Kink e BDSM, o site kynk 101 precisava avaliar mais do que apenas nossas próprias experiências, por isso contataram outros praticantes do estilo de vida kinky/BDSM e fizeram uma pesquisa inovadora para descobrir o porque de lesões e acidentes no nosso estilo de vida.
SOBRE A PESQUISA
Em novembro de 2021, a pesquisa voluntária “When things go wrong” (quando as coisas dão errado) foi lançada na plataforma da mídia social do site Kynk 101, bem como no site. Ele teve a duração de sete semanas antes de ser compilado neste relatório (dividido em 3 textos para não ficar uma leitura muito pesada).
FORMATO DA PESQUISA
Perguntas demográficas foram feitas primeiro, para estabelecer os tipos de praticantes que participaram da pesquisa, com opiniões iniciais sobre as atividades mais ou menos perigosas e seu nível de envolvimento organizado em cenas publicas, nas áreas Kink e BDSM.
Uma resposta específica ao Envolvimento na Cena dividiu a pesquisa em duas seções:
TESTEMUNHANDO ACIDENTES e EXPERIMENTANDO ACIDENTES. Isso permitiu diferenciar a freqüência com que os acidentes ocorrem para outras pessoas e durante as cenas dos próprios participantes.
Aqueles que responderam NÃO ao envolvimento em cenas publicas pularam direto para Vivenciando Acidentes.
TESTEMUNHANDO ACIDENTES
Dividida com base nas respostas afirmativas dos entrevistados, esta seção explorou três cenários em que se podia testemunhar um acidente:
· Como espectador
· Como organizador ou anfitrião de eventos
· Como monitor ou observador de masmorras
Um conjunto padrão de perguntas pra cada situação permitiu que os mesmos dados fossem coletados em geral sobre os incidentes, mas também permitiu que fossem feitas distinções entre as experiências em cada situação, como perguntas especificas do cenário sobre treinamento, verificação e segurança do local de praticas.
EXPERIMENTANDO ACIDENTES
Esta seção abordou questões iniciais sobre identidade kinky, bem como se os entrevistados já tiveram ou não uma palavra de segurança ignorada e se já sofreram um acidente em alguma de suas próprias cenas.
Os entrevistados que responderam SIM à experiência de um acidente em suas próprias cenas foram solicitados a detalhar o incidente da mesma forma como se tivessem testemunhado um.
SEGURANÇA EM KINK E BDSM
Um conjunto final de perguntas explorou as opiniões dos entrevistados sobre a segurança no kink e no bdsm em geral.
PRINCIPAIS PERGUNTAS E DADOS DEMOGRÁFICOS ALVO
Ao montar a pesquisa, as principais perguntas precisavam ser respondidas:
· Quão comum são os acidentes em kink e bdsm?
· Quem corre mais riscos nas cena?
· Quão graves são os ferimentos sofridos?
· O que causa esses acidentes e lesões?
· Quais atividades kink ou bdsm são mais/menos perigosas?
· Como as pessoas reagem aos acidentes nas cenas?
· É mais seguro jogar em público ou em privado?
Estas foram apresentadas de diversas formas, explorando como as experiências impactaram cenas futuras, bem como os entrevistados aprenderam com elas.
Analisar essas questões significava que precisávamos de feedback de um grupo diversificado de assuntos incluindo:
· Todos os lados do jogo, independente da função especifica.
· Todas as identidades de gênero, cis ou não.
· Espectadores de cenas públicas
· Participantes de cenas públicas e privadas
· Proprietários e anfitriões de locais
· Monitores e observadores de masmorras
Esses dados então foram comparados com informações da população mundial, bem como com outros projetos de pesquisa sobre kink e bdsm que apresentavam uma divisão identificável entre papeis.
Para representar com precisão a freqüência de acidentes e lesões no Kink e BDSM, precisávamos de kinksters que:
· Tivessem experimentado e/ou testemunhado acidentes e lesões.
· Não sofreram e/ou testemunharam acidentes e lesões.
Para estabelecer a probabilidade de testemunhar e/ou sofrer um acidente em kink e BDSM, precisamos de uma serie de respostas diferentes níveis de experiência nos seguintes:
· Diferentes durações de estilo de vida, 0 a 10 anos ou mais
· Diferentes níveis de experiência, do nível iniciante ao nível especialista.
DADOS DEMOGRÁFICOS DOS PARTICIPANTES
De 138 kinksters que foram perguntados:
· A maioria tinha uma experiência mediana e avançada
· Duração de estilo de vida – 0 a 1 anos (11%), de 2 a 4 anos (35%), de 5 a 10 anos(28%) e mais de 10 anos (26%)
· A maioria com 89% composto por homens e mulheres cis-gênero.
· A maioria vivente na America do Norte e Canadá , com mais 5 paises com pouca relevância
· Estilos de pratica BDSM : RACK (51%), SSC (32%), PRICK (15%) e outras formas (2%)
· Dos papeis em cena: bottoms (57%), Switches (22%) e Tops (21%)
Diferentes respostas baseadas em perspectivas são registradas nos resultados
NENHUM REEMBOLSO FOI OFERECIDO AOS ENTREVISTADOS EM TROCA DE SUA PARTICIPAÇÃO NA PESQUISA.
PRINCIPAIS RESULTADOS
· 43% dos kinsters já presenciaram algum acidente ou lesão
· 1 em 5 kinksters tiveram suas palavras de segurança ignoradas.
· 18% dos kinkster tinham alguma certificação em Primeiros Socorros
· ¼ são dissuadidos de praticar por causa de acidentes vividos ou observados
· As praticas mais “seguras” são as que causam mais injúrias.
Quase metade dos kinksters sofreram algum tipo de acidente ou lesão na pratica de kinks e/ou bdsm. 43% dos kinsters já presenciaram algum acidente ou lesão, e embora esse numero não seja tão elevado como esperado, os incidentes em si variam: acontecem com todos os níveis de praticantes, em todos os roles do jogo, e as razões para esses acidentes são tão diversos como os kinsters que o sofrem.
1 em 5 kinksters tiveram suas palavras de segurança ignoradas. Alguns kinksters não usam palavras de segurança, mas aqueles que a usam, um quinto são ignoradas. Mesmo veteranos experientes com mais de 8 anos tem suas palavras de segurança ignoradas em um terço de suas cenas.
18% dos kinkster tinham alguma certificação em Primeiros Socorros. Este é um número chocante, embora 60% dos praticantes tenham algum treinamento de primeiros socorros com certificado, menos de 1 a cada 3 possui um certificado válido. As lesões sofridas em acidentes kink e BDSM são predominantemente leves (por exemplo pequenos cortes e arranhões, hematomas imperceptíveis de curta duração), mas a necessidade de tratamento médico acontece em quase metade de todos os acidentes.
Se você se envolvesse em um acidente kink ou BDSM, gostaria que seu parceiro(a) soubesse como administrar os primeiros socorros com segurança? Se SIM, apenas 13% dos praticantes concordariam com você.
Um quarto dos kinksters que sofrem um acidente são dissuadidos da atividade. Daqueles que sofrem um acidente ou lesão, apenas um quarto topa fazer mais investigação e estudo antes de tentar novamente a atividade, e apenas um quarto tenta novamente a atividade. Em contrapartida, mais de um terço (37,5%) das pessoas que “testemunharam” um acidente desistem da atividade em curto prazo.
A ATIVIDADE KINK/BDSM MAIS COMUM QUE CAUSA MAIS LESÃO É CONSIDERADA A MENOS PERIGOSA
O impact play liderou o ranking, respondendo por mais de um terço de todos os acidentes e lesões (35%), mas quase um quarto dos kinksters considera-o uma das atividades menos perigosas de se praticar (23%), e ZERO o considera o mais perigoso.
As cenas de suspensão e bondage com cordas estão em segundo lugar, com mais de uma quarto das lesões (26%), o que se correlaciona com o fato de ser a causa mais comum de lesões e acidentes (62%). Apesar desse pensamento comum sobre a possibilidade de lesão, apenas 3% consideram Bondage como uma atividade perigosa.
O que os Kinksters consideram ser o mais arriscado (para eles pessoalmente) – Jogos com Armas, Asfixia e suspensão com ganchos – representa apenas 2% dos ferimentos registrados – sugerindo que a reputação dessas atividades mais ousadas impede que os praticantes kink e BDSM as explorem e, portanto, as informações sobre esse tipo de incidentes é limitada.
Mais detalhes no próximo texto nomeado: A verdade sobre acidentes e lesões em Kink e BDSM
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