AVISO: o texto a seguir traz uma análise pessoal do meio BDSM Brasileiros, observado por mim, ao longo de anos. Os tópicos são genéricos e não ligados diretamente a uma pessoa específica ou grupo. Caso sinta-se ofendido com as informações aqui contidas, sinto muito que tenha vestido à carapuça, ou então aprenda a interpretar texto e aceite a opinião dos outros.
Sou praticante de BDSM a um longo tempo, e sempre me deparo com frases como, BDSM é para todos ou aqueles anúncios de aulas virtuais, tipo “como transformar seu namorado(a) em um dominador(a)” ou “como transformar sua namorada(o) em seu escravo(a) sexual”. Aposto que se você tem já um tempo de estrada dentro do BDSM, já deve ter se deparado com esses anúncios e frase. Sabe o que eu penso disso com sinceridade? Que é uma ótima publicidade para pegar desavisados e uma forma extremamente inteligente de estragar mais ainda o meio BDSM.
Poxa, mas você é praticantes, escreve sobre o meio e também é artesão de couro? Você não deveria estar falando essas coisas, afinal, BDSM é democrático e bla bla bla... Com certeza é isso que você está pensando agora e ainda mais, vou deixar de seguir esse cara, como pode falar tanta besteira, é lógico que o BDSM é para todos. Mas não é e vou te provar, se você continuar a ler.
Prometo que vai valer à pena e vai concordar comigo no final.
Se você já acompanha meu blog, deve ter lido os textos básicos como o que é BDSM, Aftercare, Consensualidade, o que é ser Dominante Submisso e Switches. Então não vou novamente recordar esses detalhes, os links estão aí e você pode ler cada um para entender o que é o que.
Posto isso vamos ao que interessa: BDSM não é para todos.
1 – BDSM não é para quem não respeita REGRAS
Se você é uma dessas pessoas que não respeitam as regras sociais e acham que tudo pode ser pervertido ao seu bel prazer, BDSM definitivamente não é para você. O bdsm se baseia em regras, hierarquia vertical (apesar de existir o relacionamento horizontal em alguns momentos), castigos e recompensas. Esse é o básico do jogo BDSM, um manda outro obedece, existem ordens, castigos, “torturas”, prazer e recompensas.
Pessoas que não sabem brincar com esse tipo de ordenamento, não estão aptas a jogar BDSM. É aquela famosa frase: Não sabe brincar, não desce para o play. Como qualquer jogo, BDSM tem regras, e seguir as regras ajuda ao BDSM ser um pouco mais seguro.
Ainda nas regras, poderia escrever quase um livro com todas as possíveis desobediências de regras que não combinam com o BDSM. Mas muitos vão concordar, ser switch não significa virar o jogo na hora que te dá na telha.
2 – BDSM não é para quem não aceita a CONSENSUALIDADE.
No meio bdsm o que mais existe é discordância sobre TUDO. Se eu gosto de A, sempre vai ter um que não gosta de A porque gosta de B e vai me criticar simplesmente porque eu gosto de A e ele não. Mas se tem algo que 99,99% dos praticantes de BDSM concordam é que a CONSENSUALIDADE é a base para um jogo seguro e não abusivo. Logo se você não respeita um ato consensual, BDSM não é para você também. Não adianta vir com papinho de que é só um joguinho simulado de “estupro consensual”, não estupro não é consensual por definição, então uma coisa não tem nada haver com a outra. Se você gosta disso, ok, mas não diga que é BDSM, porque não é. É sua perversão, assuma isso.
3 – BDSM não é para justificar seu sadismo patológico ou psicopatia.
Exatamente isso que você leu como o BDSM é um meio social onde “simulamos” torturas como uma forma de jogo sexual, é um ambiente próspero para sádicos patológicos, psicopatas e até pedo... Estarem escondidos. Há mas como assim? Você não pode atacar as pessoas, está sendo pré-conceituoso. Não, eu estou sendo realista. Existe muita gente ruim de verdade que quer causar o mal e se esconde dentro do “fetiche”, justificando que é uma brincadeirinha. Por isso que quem escreve e ensina deve sempre se lembrar de Negociar muito bem, fazer um check list completo, conhecer a pessoa em locais públicos, ter um grupo de apoio, etc. Ou você acha que esse monte de regra de segurança é só para sermos uns chatos que querem acabar com seu excitação?
Já imaginou, você entrando numa relação com um psicopata patológico que vai te amarrar e torturar de verdade dizendo que esse é o verdadeiro BDSM? Sinto em te dizer, mas isso é mais comum do que você imagina, porque sempre tem um iniciante mais esperto para “defecar” para as regras de segurança.
4 – BDSM não é para pessoas traírem seus relacionamentos monogâmicos.
Esse é um exemplo clássico, mas extremamente comum. Quem nunca conhece o Dom, Domme, Sub (homem ou mulher) que é casado, jura de pé juntos que o parceiro (a) sabe do BDSM, mas na realidade está usando o BDSM para trair?
Uma das bases do BDSM é a confiança em seu parceiro (a) de jogo. Horas, se essa pessoa trai o seu parceiro (a) de vida com você, será que ele (a) é realmente digno dessa confiança?
Há, mas você está falando que só monogâmicos podem jogar BDSM? Não de forma alguma. Se você é monogâmico e o acordo do seu relacionamento permite que você tenha uma D/s, vai fundo, sendo verdadeiro com você mesmo e com seu parceiro (a). Agora, você tem um relacionamento monogâmico, mas quer viver o BDSM, “escondido”? Já parou para pensar que mentira tem perna curta e uma hora isso vai dar merda? Como você se sentiria, sendo traído (a) pelo seu parceiro (a) – Esposo (a), Namorado (a) – da forma como você está fazendo?
Não sou moralista não, só realista. Se você realmente acha que é legal mentir, vai fundo. Mas quem mente por uma coisa, pode mentir por outra facilmente.
BDSM = CONFIANÇA
5 – BDSM não é uma forma de chocar a sociedade e nem um ato político.
Essa é a mais recente besteira que ando escutando e extremamente POLÊMICA. BDSM não é ato político, ponto final. BDSM não é para chocar a sociedade e a fazerela mudar os conceitos na marra. BDSM é um prazer pessoal.
Está lotado de praticantes de BDSM, que não precisam nem sequer de redes sociais para se expor, nunca tiram fotos, não vão a eventos públicos de fetiche e vivem suas fantasias na sua particularidade: consumindo, jogando, vivendo e gozando.
Se você tem uma necessidade de se expressar politicamente, acho ótimo, existem diversos meios para fazer isso, inclusive indo à reuniões nas assembléias legislativas de seus municípios e estados, como cidadãos comuns que todos nós somos com nossos CPFs. Isso todos nós podemos fazer em um estado democrático e saber discutir idéias faz sim um ato político, sem agressividade e sem querer forçar o outro a pensar como você de forma não consensual.
Agora, no que se vestir com roupas de couro, brincar de fazer torturas sexuais, amarrar pessoas e gozar no processo é uma atividade política? O que isso vai mudar a nossa sociedade? A maioria da população terá que nos aceitar desfilando com nossas submissas na rua com a coleira e a guia? Sério que você acha que isso vai ajudar a melhorar a nossa sociedade?
Agora, se eu não concordar politicamente com quem estiver lendo, de que o BDSM é um ato liberal e por isso é político, já serei o INIMIGO, sinto muito BDSM é para ADULTOS acima de 18 anos, então volte umas casas no jogo da vida e tente novamente.
6 – BDSM é para ADULTOS
Poxa acabei de falar isso, BDSM é para adultos. Não é porque você completou 18 ou 21 anos segundo o código civil Brasileiro que você é Adulto. Perante a lei você é maior de idade, sim. Mas socialmente, nos tornamos adultos no momento que aprendemos a respeitar as diferenças, respeitar as regras sociais, sermos consensuais, e temos maturidade emocional para lidar com as problemáticas da vida adulta, inclusive entender que nem sempre estamos com a razão em tudo. Posto isso, bdsm não é para pessoas que ainda não são psicologicamente adultos.
Da mesma forma, BDSM também não é para pessoas que não são adultos de acordo com a legislação civil. Menos de 18 anos de idade, ainda é criança ou adolescente. Poxa mas mudaram algumas regras do código civil e agora 15 anos já pode algumas coisas. OK, se você quer encarar essa, vá por sua conta e risco. Moralmente falando pessoas abaixo de 18 anos ainda não são adultos. BDSM definitivamente não é para pessoas que são atraídas ou são menores de idade legal.
7 – BDSM não é SWING
BDSM é BDSM, com suas regras sociais, morais, jogos e brincadeiras. Swing a mesma coisa. Você pode ser BDSM e Swinger com certeza, nada te impede. Mas cada um é um. Já cansei de ver gente do swing bestificada por coisas comuns como um spanking, e também já vi praticantes de BDSM dizer que swing é putaria. Ambos estão errados, pois como disse cada grupo social é um, com suas regras e prazeres. Você quer misturar? Ok vai lá, mas eu acho que não vai funcionar.
8 – BDSM não é Fantasia Sexual
Esse é outro exemplo clássico. Você viu “50 tons de cinza” ou outro filme de streaming que envolve BDSM ou fetiches em sua temática. Adivinha? SIM, BDSM, não é isso. Essas são fantasias eróticas literárias com toque de elementos do universo BDSM. Dominadores não são em sua maioria caras podres de ricos com problemas de auto-estima, e submissas nunca vão assinar um contrato bdsm com a presença de um advogado, isso é ficção. Praticantes de BDSM são pessoas comuns, muitas vezes seus colegas de trabalho ou até familiares.
9 – BDSM não é para quem acha que é Pornô.
A indústria de filmes pornográficos existe há muito tempo, está aí como uma forma de entretenimento adulto, e lógico que usa elementos de fetiche e BDSM, já que está dentro do erotismo. Mas, filmes pornográficos com temática BDSM, não são um retrato fiel de como é uma sessão BDSM real. Nem todas as submissas são super modelos, com roupas diferentes e que agüentam horas transando, e com certeza os Dominadores não são todos caras marombados com pênis enormes e super rígidos. Nós somos pessoas normais ta? Com barriguinha, flacidez, estrias, calvice, etc. Podemos até gostar muito de sexo, mas nem todo mundo é tem desempenho olímpica sexual. Se você está entrando no BDSM e acha que é um filme pornô, bdsm não é para você.
10 – BDSM não é uma forma de ganhar dinheiro fácil
Eu me pergunto como se ganha dinheiro fácil, porque tudo que vale a pena nesse mundo dá trabalho. Mas aí entra essa questão, BDSM não é uma forma de você ganhar dinheiro à custa dos outros.
Você pode oferecer um serviço, uma mentoria, uma dominação profissional séria, acessórios, cursos, um bar com ambiente para jogar, mas tudo de forma clara, objetiva e transparente. Como uma troca de bens e serviços. Isso sim está mais do que correto.
Agora uma esperta que calça uma bota e diz que para o “submisso” iniciante dar oi, ele tem que fazer um PIX? Ou um “dominador” que pede dinheiro emprestado para uma submissa, para comprar brinquedinhos para outra submissa? Isso tem nome se chama Estelionato ou Prostituição.
Duvido que você nunca tenha ouvido falar de algo assim. Incluindo pessoas que usam fotos e informações pessoais privadas como chantagem em troca de bens financeiros (doxing). Estas pessoas estão cometendo crimes, mesmo que em alguns casos existam “trouxas” que gostem disso e paguem por isso, não deixa de ser um crime.
Conclusão
Portanto para terminar essa lista, se você pratica algum tipo de estelionato, BDSM com certeza não é para você.
Devem existir mais um monte de motivos, de onde o BDSM não ser para todo mundo, já que todo mundo é muita coisa. Pelo menos um desses itens, você deve ter concordado comigo. Não espero que tenham sido todos, mas se você lembrar-se de mais algum, comente abaixo aí eu incluo na lista com o tempo.
Comments